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Crítica

CHAI

: "Wink"

Ano: 2021

Selo: Sub Pop

Gênero: Pop Rock, Indie Pop, R&B

Para quem gosta de: Yukika e Kyary Pamyu Pamyu

Ouça: Donuts Mind If I Do e Maybe Chocolate Chips

7.5
7.5

CHAI: “Wink”

Ano: 2021

Selo: Sub Pop

Gênero: Pop Rock, Indie Pop, R&B

Para quem gosta de: Yukika e Kyary Pamyu Pamyu

Ouça: Donuts Mind If I Do e Maybe Chocolate Chips

/ Por: Cleber Facchi 31/05/2021

Bastam os minutos iniciais de Donuts Mind If I Do, música de abertura em Wink (2021, Sub Pop), para que o ouvinte seja prontamente transportado para dentro do terceiro e mais recente álbum de estúdio do CHAI. São camadas de sintetizadores, batidas cuidadosamente encaixadas e vozes em coro, como um acumulo de tudo aquilo que as parceiras Mana, Kana, Yuki e Yuna haviam testado durante o lançamento do disco anterior, Punk (2019), porém, partindo de uma abordagem ainda mais sensível e detalhista. Instantes em que o quarteto japonês não apenas preserva a própria essência, como confessa referências de forma sempre particular, costurando gracejos vocais e melodias que assentam lentamente, indicativo do completo domínio do grupo em relação ao material apresentado.

E isso fica ainda mais evidente na composição seguinte, Maybe Chocolate Chips. Completa pela participação do rapper Ric Wilson, a canção incorpora parte dos elementos apresentados durante o lançamento do álbum anterior, como as vozes e ambientações eletrônicas, porém, parte de uma abordagem essencialmente etérea e cadenciada, íntima do R&B. “Confie em si mesmo / Seja especial, seja especial comigo“, cresce a letra da canção que se espalha em meio a inserções pontuais, batidas e rimas complementares. Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como In Pink, bem-sucedido encontro com o rapper Mndsgn e uma colorida sobreposição de ideias que vai do pop da década de 1980 ao soul dos anos 2010 de forma hipnótica.

Claro que isso não distancia o quarteto do mesmo pop rock enérgico que vem sendo concebido desde a estreia com Pink (2017). E isso fica bastante evidente na dobradinha composta por Action e End. São pouco mais de cinco minutos em que o grupo investe no movimento das batidas à fluidez das guitarras de forma tão urgente quanto dançante. A própria Miracle, minutos à frente, utiliza de uma abordagem bastante similar, ainda que voltada ao pop. São ecos de Prince e Tom Tom Club, efeito direto da base diminuta e criativa sobreposição de ideias, estrutura que naturalmente força uma audição atenta, mesmo que muitos dos artifícios utilizados pela banda sejam pensados para grudar na cabeça do ouvinte, direcionamento que se reflete até a música de encerramento, Salty.

Entretanto, são justamente os momentos em que o trio mais se distancia dos álbuns anteriores que Wink realmente diz a que veio. E isso fica bastante evidente no minimalismo de Nobody Knows We Are Fun. Feita para ser absorvida aos poucos, sem pressa, a canção vai de encontro aos mesmos temas eletrônicos de nomes como Yaeji e Robyn, principalmente quando voltamos os ouvidos para as canções de Honey (2018). Nada que se compare ao material entregue em Ping Pong. Completa pela participação dos veteranos da YMCK, grupo formado pelos conterrâneos Midori Kurihara, Takeshi Yokemura e Tomoyuki Nakamura, e um dos nomes mais importantes do movimento chiptune, a faixa rompe com qualquer traço de normalidade da obra, capturando a atenção do ouvinte.

O grande elemento de desequilíbrio em Wink, assim como em toda a sequência de obras apresentadas pelo CHAI ao longo dos anos, está na parcial ausência de peso e faixas realmente impactantes. Tudo gira em torno de um universo muito particular e escapista do quarteto, como uma fuga breve da realidade. São fragmentos de vozes que se aprofundam em questões sentimentais, sempre atrelas ao desenvolvimento rítmico das faixas, mas que pouco evoluem poeticamente. Claro que o grupo nunca prometeu nada além disso. Desde a estreia com Pink, são esses meses conceitos que embalam as criações da banda. O problema é que, passados três registros de inéditas, o mínimo que poderíamos esperar era por uma nova abordagem lírica, ampliando os horizontes do trabalho.

Por ora, o quarteto garante ao público uma obra que, mesmo pontuada por canções que pouco evoluem quando próximas do material entregue nos discos anteriores, mantém firme a consistência dos elementos e evidente refinamento das ideias. Do momento em que tem início, na já citada Donuts Mind If I Do, passando por preciosidades como Nobody Knows We Are Fun, Action e Maybe Chocolate Chips, difícil não se deixar conduzir pelas experiências propostas pelo grupo. São canções que transitam por entre gêneros, décadas e referências de forma sempre sensível, como um acumulo natural de tudo aquilo que a banda tem explorado desde os primeiros registros autorais, porém, pontuadas pelo uso de pequenos acréscimos e incontáveis variações instrumentais.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.