Image
Crítica

Chat Pile

: "Funny World"

Ano: 2024

Selo: The Flesner

Gênero: Rock, Sludge Metal

Para quem gosta de: KEN mode e Gilla Band

Ouça: Funny Man, Masc e I Am Dog Now

8.0
8.0

Chat Pile: “Cool World”

Ano: 2024

Selo: The Flesner

Gênero: Rock, Sludge Metal

Para quem gosta de: KEN mode e Gilla Band

Ouça: Funny Man, Masc e I Am Dog Now

/ Por: Cleber Facchi 28/10/2024

Quando se estreia com uma obra tão impactante quanto God’s Country (2022), difícil não criar expectativa para o que vem a seguir. Entretanto, basta uma rápida audição de Cool World (2024, The Flesner), segundo e mais recente trabalho de estúdio do Chat Pile, para perceber como o grupo composto por Raygun Busch (voz), Luther Manhole (guitarras), Stin (baixo) e Captain Ron (bateria) não apenas segue de onde parou no lançamento anterior, entregue há dois anos, como potencializa criativamente parte desse mesmo resultado.

Em termos de estrutura, Cool World é um registro que pouco avança quando próximo do material entregue em God’s Country, afinal, são as mesmas guitarras e batidas truculentas, o uso de uma linha de baixo densa e atmosférica, além das vozes sempre berradas de Busch. A diferença está na forma como o grupo parece direcionar cada um desses elementos dentro de estúdio, entendendo melhor as dinâmicas que parecem ter se fortalecido durante as apresentações ao vivo acumuladas pelo quarteto de Oklahoma nesses dois anos.

Exemplo disso fica bastante evidente quando nos deparamos com faixas como Funny Man. Perceba como cada um dos instrumentos assume uma função específica dentro da canção. São movimentos calculados, proposta que rompe com a massa densa e quase intransponível do lançamento anterior para flertar com o minimalismo de grupos como Shellac e The Jesus Lizard. Mesmo quando avança sobre o ouvinte, como em Masc, evidente é a precisão dos arranjos e capricho na produção adotada pelo meticuloso Ben Greenberg.

Entretanto, muito se engana quem pensa que essa maior limpidez e organização no processo de montagem do álbum tenha diminuído a ferocidade da banda. A própria música de abertura, I Am Dog Now, funciona como uma boa representação desse resultado. Pouco menos de quatro minutos em que somos soterrados pela força das guitarras e vozes quase demoníacas de Busch. O mesmo acontece em Shame, composição que avança aos poucos, porém cresce substancialmente a medida que nos aproximamos de seu desfecho.

Independente do caminho percorrido em estúdio, um elemento se destaca e ainda funciona como precioso componente de amarra durante toda a execução de Cool World: o lirismo político da banda. Enquanto no trabalho anterior o grupo se aprofundava em questões locais, discutindo temas como política, decadência moral e religião a partir da lógica estadunidense, com o presente álbum, o quarteto expande os próprios horizontes. É como uma interpretação global e ainda mais provocativa sobre os impactos do capitalismo.

A própria imagem de capa do disco, com uma paisagem desbotada sob a elevação de um símbolo religioso, funciona como uma boa representação desse resultado. Instantes em que o quarteto oscila entre a raiva e a opressão, tratamento que se reflete não apenas na construção dos versos, mas em cada mínimo fragmento instrumental do registro. É como uma extensão natural do que foi apresentado no álbum anterior, proposta que diminui parte da sensação de impacto, mas nunca a pertinência do material entregue pelo Chat Pile.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.