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Crítica

Chico Buarque

: "Caravanas"

Ano: 2017

Selo: Biscoito Fino

Gênero: Samba, Jazz, Bossa Nova

Para quem gosta de: Gilberto Gil e Caetano Veloso

Ouça: As Caravanas, Dueto e Tua Cantiga

8.5
8.5

Chico Buarque: “Caravanas”

Ano: 2017

Selo: Biscoito Fino

Gênero: Samba, Jazz, Bossa Nova

Para quem gosta de: Gilberto Gil e Caetano Veloso

Ouça: As Caravanas, Dueto e Tua Cantiga

/ Por: Cleber Facchi 21/04/2020

Primeiro trabalho de estúdio depois de um hiato de seis anos, Caravanas (2017) mostra Chico Buarque em sua melhor forma. Do momento em que tem início, no romantismo agridoce de Tua Cantiga, passando pelas confissões românticas de Dueto, releitura da faixa originalmente gravada por Nara Leão nos anos 1980, agora completa pela presença da própria neta, Clara Buarque, cada fragmento do disco passeia em meio a diferentes fases e conceitos tipicamente relacionados à obra do músico carioca. São ambientações latinas, como em Casualmente, o lirismo tragicômico de Blues Pra Bia, ou mesmo a musa idealizada de A Moça do Sonho, estrutura que costura passado e presente de forma desajustada, como o olhar de um homem velho sobre diferentes aspectos da nossa sociedade, relacionamentos e novas formas de comportamento.

Entretanto, para além do simples resgate estilístico, como um olhar curioso sobre a própria obra, sobrevive nos versos e melodias pouco convencionais de Caravanas alguns dos momentos mais significativos do músico em sua fase mais recente. Exemplo disso ecoa com naturalidade na faixa-título do disco. Partindo do cerceamento proposto pela elite carioca ao acesso de diferentes comunidades às praias do Rio de Janeiro, Chico pinta um retrato minucioso sobre o racismo estrutural e os muros invisíveis que separam a nossa sociedade. “Com negros torsos nus deixam em polvorosa / A gente ordeira e virtuosa que apela / Pra polícia despachar de volta / O populacho pra favela / Ou pra Benguela, ou pra Guiné“, canta. São versos densos, sempre descritivos, como se do cenário idílico que embala o disco nos minutos iniciais, o ouvinte fosse bruscamente transportado para a realidade.



Este texto faz parte da nossa lista com Os 100 Melhores Discos Brasileiros dos Anos 2010 que será publicada ao longo das próximas semanas. São revisões mais curtas ou críticas reescritas de alguns dos trabalhos apresentados ao público na última década. Leia a publicação original.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.