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Ano: 2023

Selo: Chevalier de Pas

Gênero: Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Letrux e Mahmundi

Ouça: Fundo do Poço e Chorar Na Boate

7.5
7.5

Clarice Falcão: “Truque”

Ano: 2023

Selo: Chevalier de Pas

Gênero: Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: Letrux e Mahmundi

Ouça: Fundo do Poço e Chorar Na Boate

/ Por: Cleber Facchi 16/08/2023

Se Tem Conserto (2019) é o esquenta que antecede a festa, Truque (2023, Chevalier de Pas) é a ressaca do dia seguinte. Quarto trabalho de estúdio de Clarice Falcão, o disco produzido em parceria com Lucas de Paiva (Alice Caymmi, Mahmundi), com quem a artista havia colaborado no registro anterior, destaca o lirismo melancólico, forte vulnerabilidade emocional e sensação de deslocamento vivida pela cantora e compositora pernambucana que há dez anos estreou com tragicômico Monomania (2013). São canções que funcionam como um passeio pela mente de Falcão, alternando entre o recolhimento e a libertação.

Escolhida como primeira faixa do disco a ser apresentada ao público, Chorar Na Boate funciona como uma representação quase perfeita de tudo aquilo que a cantora busca desenvolver ao longo da obra. Enquanto os versos tratam com bom humor das angústias experienciadas pela artista (“Você tá pensando, no que eu tô pensando? / Essa festa linda, com todo mundo apertadinho, suando junto / Não é o lugar perfeito pra chorar?“), sintetizadores e batidas cuidadosamente encaixadas convidam o ouvinte a dançar. É como uma combinação agridoce de elementos, estrutura que assume diferentes formatações no decorrer do registro.

Em Fundo do Poço, por exemplo, são versos existenciais que alternam entre orquestrações caprichadas e diálogos com a produção eletrônica, soando como uma música perdida do Goldfrapp. Essa mesma riqueza de detalhes pode ser percebida em Eu Destruo, criação que contrasta o amor doentio da letra com uma base totalmente hipnótica, estrutura que ainda abre passagem para a faixa-título do trabalho, composição que partilha do mesmo R&B atmosférico explorado por Sade no início da década de 1990. Canções que vão de um canto a outro, porém, revelando uma homogeneidade poucas vezes antes vista na obra de Falcão.

Parte desse direcionamento vem não apenas da forte relação entre a Falcão e de Paiva durante a montagem do material, como do esforço da artista em utilizar das próprias emoções para costurar o trabalho de uma ponta à outra. Mesmo partindo de uma abordagem monotemática, centrado quase que exclusivamente em questões sentimentais, Truque perverte qualquer traço de previsibilidade em favor de um repertório que estabelece interpretações pouco usuais sobre o amor. “Me apaixonei no banheiro químico … Qualquer buraco com um cheiro fétido / Com você é nota dez“, canta em Podre, divertida síntese desse resultado.

E ela está longe de ser a única. A própria escolha da artista em inaugurar o disco com Dimensão, música que destaca os encontros e desencontros de um casal e ainda serve de passagem para a composição de encerramento, funciona como uma boa representação desse resultado. É como uma jornada emocional que se aprofunda não apenas no que há de melhor, mas nas dores e pequenas inquietações envolvendo o amor. “Você não me dá mais o ar da sua graça / E nada tem graça, e nada tem jeito … Esse mundo não é meu / Esse mundo agora é meu“, reflete em Ar Da Sua Graça, um dos momentos de maior melancolia do trabalho.

Toda essa combinação de elementos resulta no que talvez seja o trabalho mais completo da carreira de Falcão, o que não necessariamente a exime de alguns tropeços. Salve exceções, como a já citada Chorar Na Boate e a pulsante Quero Acreditar, música que leva o disco para um novo território criativo, Truque se projeta de forma exageradamente contida. Embora detalhista, falta ao registro a mesma fluidez explícita no álbum anterior ou mesmo momentos de ruptura, como nos instantes finais de Ideia Merda. Um delicado exercício de exposição sentimental, mas que nunca ultrapassa o que parece ser um limite pré-definido.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.