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Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Jazz, Neo-Soul, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Sudan Archives e L'Rain

Ouça: Sandstone e Vantablack

8.0
8.0

Dawn Richard & Spencer Zahn: “Pigments”

Ano: 2022

Selo: Merge

Gênero: Jazz, Neo-Soul, Pop de Câmara

Para quem gosta de: Sudan Archives e L'Rain

Ouça: Sandstone e Vantablack

/ Por: Cleber Facchi 15/11/2022

Dawn Richard segue como uma das artistas mais imprevisíveis da cena norte-americana. Poucos meses após o lançamento de Second Line (2021), obra em que estreita a relação com as pistas e homenageia a cidade de Nova Orleães, onde nasceu, a cantora, compositora e produtora da Louisiana utiliza de uma abordagem completamente distinta no repertório de Pigments (2022, Merge). Concebido em parceria com o multi-instrumentista Spencer Zahn, com quem já havia colaborado anteriormente, o registro de essência atmosférica convida o ouvinte a se perder em um ambiente marcado pela completa sutileza dos elementos.

Imersivo, como tudo aquilo que Zahn tem produzido desde o início da carreira, Pigments se revela ao público em uma medida própria de tempo. Utilizando das cores como componente de marcação, cada fragmento do disco assume uma função específica. São estruturas orquestrais que abrem passagem para a inserção das vozes e fina instrumentação que parece pensada para envolver o ouvinte. A própria sequência de abertura, que trata a introdutória Coral e Sandstone como parte de uma mesma criação, funciona como uma delicada síntese de tudo que os dois artistas buscam desenvolver ao longo da obra.

É como se a cantora flutuasse em uma nuvem de sons e sensações cuidadosamente trabalhados pelo multi-instrumentista. “Perdido em sua pele / Você é minha religião … Posso me perder em você?“, questiona em meio a versos provocativos que destacam o lirismo envolvente que tanto caracteriza o desenvolvimento da obra. Assim como em alguns de seus principais registros, como Blackheart (2015) e Redemptionheart (2016), Richard se aprofunda na construção de faixas marcadas pela vulnerabilidade dos temas. Canções que começam pequenas, ganham forma e crescem de forma a ampliar os sentimentos e entrega da artista.

E isso fica ainda mais evidente nas canções em Zahn rompe com a ambientação econômica do álbum de forma a potencializar os versos lançados por Richard. Nona faixa do disco, Crimson funciona como uma boa representação desse resultado. Inaugurada em meio a arranjos de cordas, sopros e inserções sutis, sempre discretas, a música logo avança na construção das batidas que destacam as inseguranças vividas pela compositora. “Eu não posso me olhar no espelho / Só vejo reflexos do que eu costumava ser“, detalha em tom melancólico. Claro que esse senso de grandeza ecoa apenas em momentos estratégicos do álbum.

Durante toda a execução do trabalho, Zahn e Richard se concentram na formação de um repertório marcado pelo esmero e forte aproximação entre as faixas. É como se a dupla norte-americana em nenhum momento ultrapassasse o que parece ser um limite bem definido logo nos minutos iniciais da obra. Se por um lado essa abordagem fortalece o desenvolvimento do registro, por outro, utiliza de pequenas repetições que tendem a desgastar a experiência do ouvinte. Com exceção das composições em que as vozes ganham maior destaque, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias, timbres e ambientações minimalistas.

Felizmente, Pigments se resolve em um curto intervalo de tempo, impossibilitando que a experiência do ouvinte seja consumida pelo lento desvendar das informações. A exemplo de outras obras produzidas pelo multi-instrumentista, como o delicado Sunday Painter (2020), Zahn se concentra na formação de um repertório marcado pelo refinamento dos arranjos e uso de incontáveis camadas instrumentais, mas que em nenhum momento se estende para além do necessário. São orquestrações sutis que funcionam de maneira complementar, alavancando as experiências sentimentais e versos detalhados pela cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.