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Crítica

Deize Tigrona

: "Foi Eu Que Fiz"

Ano: 2022

Selo: Batekoo

Gênero: Funk Carioca, Eletrônica

Para quem gosta de: Badsista e Tati Quebra Barraco

Ouça: Monalisa e Sururu das Meninas

8.3
8.3

Deize Tigrona: “Foi Eu Que Fiz”

Ano: 2022

Selo: Batekoo

Gênero: Funk Carioca, Eletrônica

Para quem gosta de: Badsista e Tati Quebra Barraco

Ouça: Monalisa e Sururu das Meninas

/ Por: Cleber Facchi 03/10/2022

Quatorze anos se passaram desde que Deize Tigrona deu vida ao último trabalho de estúdio, Garota Chapa Quente (2008). De lá pra cá, a artista que ganhou o mundo quando Injeção, parceria com DJ Marlboro, foi sampleada por M.I.A. em Bucky Done Gun, passou por altos e baixos. Salve colaborações esporádicas com nomes como Jaloo e Badsista, a moradora da Cidade de Deus, comunidade do Rio de Janeiro, teve que cancelar uma série de apresentações no exterior para se dedicar à família, tratar da própria saúde mental e passou a tirar seu sustento como gari. Entretanto, Deize nunca parou de compor.

Vem justamente desse esforço em resgatar algumas das músicas compostas nesse intervalo de mais de uma década o estímulo para o repertório de Foi Eu Que Fiz (2022, Batekoo). Ponto de partida para uma nova fase na carreira da artista, o trabalho que conta com direção artística de Mauricio Sacramento mostra a compositora carioca em sua melhor forma. São canções que preservam o lirismo explícito dos primeiros registros autorais, estreitam a relação com novos colaboradores e arrastam o ouvinte para as pistas, porém, sustentam na construção dos versos uma vulnerabilidade poucas vezes antes explícita na obra de Tigrona.

Segunda composição do disco, Monalisa talvez seja a principal representação dessa nova fase na carreira da artista. Enquanto a produção de JLZ invariavelmente convida o ouvinte a dançar, versos marcados pela sensibilidade dos temas tratam sobre fins e recomeços, indicando o que há de mais delicado no som produzido em Foi Eu Que Fiz. “Estou de frente pro mar / Mesmo sabendo que o Sol vai embora / As ondas batem nos meus pés / Veio revigorar / E eu tô viva agora“, reflete. É como uma parcial fuga dos antigos trabalhos, nada que inviabilize a construção de faixas que vão de encontro ao velho funk proibidão.

A própria música de abertura do registro, Sururu das Meninas, funciona como uma síntese clara desse resultado. Com produção assinada por Malka, a faixa traz de volta tudo aquilo que Tigrona havia testado em Garota Chapa Quente, porém, partindo de uma abordagem essencialmente atualizada. Enquanto os versos indicam a busca da artista carioca por novas formas de relacionamento (“Suruba das meninas / Macho tem medo / Dedo no cu e gritaria / É chupação de grelo“), batidas e ambientações sintéticas ampliam os rumos da obra, proposta que acaba se refletindo em outros momentos ao longo do trabalho.

É o caso de Sobrevivente de Rave, colaboração com Teto Preto que evidencia a capacidade da artista em transitar por entre estilos de forma sempre particular, lembrando o encontro com Jup do Bairro em Pelo Amor de Deize. Mesmo quando regressa ao território dos antigos trabalhos, como em Ibiza, parceria com Badsista, Tigrona busca sempre tensionar os próprios limites. Um misto de conforto e permanente esforço em provar de novas possibilidades, conceito que se reflete até os minutos finais do registro, em A Mãe Tá On, música que destaca a potência das rimas e bases que dialogam com outros nomes da cena carioca.

Nesse espaço onde passado e presente se cruzam a todo momento, a cantora aproveita não apenas para estreitar laços com velhos colaboradores, como DJ Chernobyl, na faixa-título do disco, como utiliza de pequenas citações e referências pontuais ao próprio trabalho. É o caso de Bondage, canção que soa como uma extensão de Sadomasoquista, música redescoberta recentemente por conta de um sucesso no TikTok. São composições que assumem a difícil tarefa de apresentar o som produzido pela artista a uma nova parcela do público, porém, preservando o que há de melhor e mais característico na obra de Tigrona.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.