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Crítica

Disclosure

: "Alchemy"

Ano: 2023

Selo: Apollo / Awal

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Jamie XX e Fred Again

Ouça: Go the Distance e Higher Than Ever Before

7.5
7.5

Disclosure: “Alchemy”

Ano: 2023

Selo: Apollo / Awal

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Jamie XX e Fred Again

Ouça: Go the Distance e Higher Than Ever Before

/ Por: Cleber Facchi 24/07/2023

Lançado de surpresa, sem grandes promoções, Alchemy (2023, Apollo / Awal) marca o princípio de uma nova fase na carreira do Disclosure. Primeiro trabalho dos irmãos Guy e Howard Lawrence desde a saída da antiga gravadora, a gigante Island Records, o registro chama a atenção pela escolha dos dois artistas em não utilizar de samples ou mesmo colaboradores em estúdio, assumindo integralmente a construção das batidas, sintetizadores e uso das vozes durante toda a execução do material. Um “retorno ao básico“, como comentou a dupla no texto de apresentação do álbum, mas que está longe de ecoar de maneira simplista.

Por conta dessa ausência de adornos vocais e possíveis diálogos com diferentes colaboradores, marca dos antecessores Settle (2013), Caracal (2015) e Energy (2020), a dupla inglesa se concentra em garantir maior destaque às batidas. E isso fica bastante evidente logo na composição de abertura do disco, Looking For Love. São pouco menos de cinco minutos em que os irmãos Lawrence conduzem o ouvinte em direção às pistas, trazem de volta os sintetizadores futurísticos que evocam MJ Cole e sustentam na temática da busca pelo amor um precioso componente criativo que direciona parte expressiva do repertório de Alchemy.

Dentro desse espaço marcado pela fluidez e força das batidas, algumas composiçõeas chamam a atenção pela forma como os dois artistas se permitem provar de novas possibilidades. É o caso de Higher Than Ever Before. Mesmo preservando uma série de elementos bastante característicos da dupla, como as vozes picotadas e sintetizadores sempre em destaque, sobrevive no diálogo com o drum and bass um elemento de nítida transformação quando próximo dos registros que o antecedem. É como se os irmãos Lawrence abrissem passagem para um universo de novas possibilidades, diferentes ritmos e direções criativas.

Ao mesmo tempo em que amplia o campo de atuação dos dois artistas, Alchemy estabelece pequenas conexões estruturais com a obra de outros nomes importantes da produção eletrônica. Em Simply Won’t Do, por exemplo, difícil ouvir a composição e não lembrar instantaneamente de Revolution 909, do Daft Punk. Essa mesma relação com a dupla francesa volta a se repetir minutos à frente, em Go the Distance, música que aponta para o material entregue pelo Disclosure em Settle, porém, sustenta no fechamento ruidoso e crescente um claro aceno para Rollin’ & Scratchin, outra importante canção do duo robótico.

O problema é que nesse esforço em provar de novas sonoridades, algumas canções ecoam de maneira deslocada. É o caso de Purify, música que utiliza uma abordagem atmosférica, mas que seria melhor aproveitada na abertura ou encerramento do disco, parecendo estranhamente encaixada entre Sun Showers e Brown Eyes. De fato, passado o interlúdio de Someday, música que divide o álbum ao meio, as escolhas da dupla passam a ser menos interessantes e até mesmo repetitivas, como uma adaptação pouco convincente de tudo aquilo que os dois artistas buscam desenvolver na sequência de abertura do disco.

Ainda assim, Alchemy surpreende na maior parte do tempo. Feito à distância, com os irmãos divididos entre Londres e Los Angeles, o trabalho destaca a versatilidade da dupla que continua a impressionar mesmo desfalcada de alguns dos principais elementos que apresentaram o Disclosure há uma década. São composições que transitam por entre estilos, confessam referências e, acima de tudo, convidam o ouvinte a dançar sem grandes dificuldades. Um misto de sutil renovação e natural extensão de tudo aquilo que os irmãos Lawrence têm incorporado criativamente desde que foram oficialmente revelados com Settle.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.