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Ano: 2023

Selo: Mais Um

Gênero: Samba, Eletrônica

Para quem gosta de: Rodrigo Campos e Moreno Veloso

Ouça: Diga, Um Abraço No Faust e Tá Brabo

7.8
7.8

Domenico Lancellotti: “Sramba”

Ano: 2023

Selo: Mais Um

Gênero: Samba, Eletrônica

Para quem gosta de: Rodrigo Campos e Moreno Veloso

Ouça: Diga, Um Abraço No Faust e Tá Brabo

/ Por: Cleber Facchi 24/05/2023

Filho do compositor Ivor Lancellotti, Domenico Lancellotti cresceu cercado pelo samba, porém, sempre encontrou mecanismos para perverter o gênero. Quarto e mais recente trabalho de estúdio da cantor, compositor, percussionista e produtor carioca em carreira solo, Sramba (2023, Mais Um) funciona como uma boa representação desse resultado. Produto da imersão entre Lancelloti e o multi-instrumentista Ricardo Dias Gomes no estúdio do artista que hoje reside em Portugal, o trabalho parte de um diálogo com o estilo pré-bossa nova, porém, estabelece no uso de estruturas eletrônicas um componente de ruptura.

Não por acaso, a primeira coisa que ouvimos em Sramba é a percussão sintética de Erê, composição que utiliza de uma abordagem ritualística, preparando o terreno para a inserção das guitarras sempre carregadas de efeitos e sobreposições que parecem saídas de um terreiro afrofuturista. Esse mesmo resultado fica ainda mais evidente com a canção seguinte, Um Abraço No Faust, música que referencia o homônimo grupo germânico de krautrock, mas que em nenhum momento deixa de estreitar lanços com a produção brasileira, lembrando as criações solitárias de Baden Powell ou mesmo a obra de Luiz Bonfá.

Entretanto, é com a chegada da música seguinte, Diga, que Lancellotti e Dias Gomes melhor articulam suas ideias. Enquanto a letra da canção joga de forma ritmada com pequenas contradições, camadas de guitarras se espalham em meio a fragmentos de percussão e costuras rítmicas que ampliam os limites da obra. São diferentes atravessamentos de informações, mas que em nenhum momento diminuem a potência das batidas, estrutura reforçada mesmo no parcial distanciamento do uso de componentes eletrônicos, como em Aterrizar, composição que ainda abre passagem para faixa seguinte, a contemplativa Tá Brabo.

Passado esse breve respiro, Mole aponta a direção para a segunda metade do disco. Embora marcada pelo caráter atmosférico, destacando o uso dos sintetizadores, a canção reforça o experimentalismo sutil que embala o trabalho de Lancellotti. Nada que prejudique a construção de músicas convencionais, como Nada Será De Outra Maneira, criação que encanta pelo refinamento dado aos arranjos, como um diálogo com o material entregue pelo cantor em Serra dos Órgãos (2017). Mesmo a base eletrônica, polvilhada em momentos estratégicos, funciona como um complemento à composição que se projeta de forma radiante.

Com a chegada de Quem Samba, oitava faixa do trabalho, Lancellotti não apenas estreita laços com a artista portuguesa Marcia, como leva o disco para um novo território, efeito direto do arranjo de metais que tem assinatura de Aquiles Morais. Nada que prepare o ouvinte para o material entregue na canção seguinte, Descomunal. Completa pela participação da cantora e compositora sergipana Tori, a música chama a atenção pelo caráter atmosférico adotado pelo artista, porém, soa muito mais como uma sobra do primeiro álbum da convidada, Descese (2023), registro que contou com a presença do músico carioca.

Para o encerramento do disco, em Florescer, Lancelloti mais uma vez se distancia dos temas sintéticos indicados nos minutos iniciais. Do uso dos metais, sempre ensolarados, passando pelo lento desvendar das vozes, melodias e batidas calculadas, cada fragmento parece pensado para envolver e confortar o ouvinte, direcionamento que se engrandece pela letra da canção. É como se após a jornada iniciada em Erê, com suas texturas eletrônicas, quebras e momentos de maior ruptura, o músico preservasse apenas o que há de mais essencial em suas criações, investindo em uma abordagem cômoda, mas não menos interessante.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.