Image
Crítica

Duda Beat

: "Te Amo Lá Fora"

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Pop, Brega, Sythpop

Para quem gosta de: Jaloo, Letrux e Potyguara Bardo

Ouça: Meu Pisêro, Tocar Você e Game

7.5
7.5

Duda Beat: “Te Amo Lá Fora”

Ano: 2021

Selo: Independente

Gênero: Pop, Brega, Sythpop

Para quem gosta de: Jaloo, Letrux e Potyguara Bardo

Ouça: Meu Pisêro, Tocar Você e Game

/ Por: Cleber Facchi 03/05/2021

Quanto tempo leva para um coração partido cicatrizar? Em se tratando das canções apresentadas em Te Amo Lá Fora (2021, Independente), segundo e mais recente álbum de estúdio de Duda Beat, as feridas expostas no antecessor Sinto Muito (2018) parecem permanentemente abertas, sangrando versos de amor e instantes de maior comoção. Embora vendido pela cantora e compositora pernambucana como uma obra “para alegrar as pessoas“, o registro que conta com produção de Tomás Tróia, parceiro romântico e colaborador de longa data da artista, e Lux Ferreira, músico que já trabalhou com nomes como Mahmundi e Felipe Vellozo, estabelece no mesmo lirismo entristecido de composições como Pro Mundo Ouvir e Todo Carinho a base para grande parte do presente disco.

E isso fica bastante evidente logo nos primeiros minutos do trabalho, na introdutória Tu e Eu. Entre camadas de sintetizadores e fragmentos extraídos de Coração de Papel, música composta pela conterrânea Cila do Coco, Eduarda Bittencourt Simões, verdadeiro nome da cantora, confessa: “Cheguei ‌e‌ ‌tava‌ ‌tocando‌ ‌nosso‌ ‌som‌ ‌/ Grave‌ ‌bateu‌ ‌e‌ ‌doeu‌ ‌meu‌ ‌coração‌ / ‌Não‌ ‌sei‌ ‌se‌ ‌foi‌ ‌a‌ ‌canção‌ ‌ou‌ ‌minha‌ ‌decepção‌ / De‌ ‌te‌ ‌ver‌ ‌com‌ ‌outra‌ ‌pessoa‌“. É como se o ouvinte fosse prontamente transportado para o mesmo ambiente criativo e sentimental do disco entregue há três anos. Frações poéticas que se dividem entre a melancólica busca por libertação e desejo incontrolável de reconciliação, como memórias de um passado ainda recente que insistem em reviver desejos e sensações.

Entretanto, longo de sufocar pela excessiva repetição de ideias, a grande beleza de Te Amo Lá Fora está justamente na sobriedade impressa em parte dos versos e capacidade da artista em trazer outras abordagens sentimentais. “Pra mim tá tudo perdoado / Ninguém é obrigado a me amar assim / Morri, eu fiquei aos pedaços / Mas tu não é culpado de não me amar assim“, canta em Meu Pisêro, música escolhida para anunciar a chegada do álbum e um importante ponto de ruptura dentro da curta discografia da cantora. Mesmo Game, minutos à frente, traz uma interpretação diferente do eu lírico, menos submisso e naturalmente ativo dentro da trama detalhada nos versos. “Pego um dos seus amigos pra te fazer um ciúme / Mostro que tá tudo bem e assim você não me assume“, canta.

A própria base instrumental do disco parece conduzir o ouvinte para um novo território criativo. Exemplo disso acontece em 50 Meninas, música que parte de uma estrutura similar ao material entregue em Sinto Muito, porém, estabelece no diálogo com o reggae um necessário elemento de ruptura. E isso fica ainda mais evidente na canção seguinte, Decisão de Te Amar, registro que cresce nas reverberações lisérgicas, metais e melodias marofadas que contam com a interferência direta do multi-instrumentista Patrick Laplan (Los Hermanos, Castello Branco). Nada que se compare ao material apresentado na derradeira Tocar Você, faixa que evoca o pop eletrônico de Letrux e Jessie Ware, porém, preservando a identidade da cantora pernambucana e deixando o caminho aberto para os futuros trabalhos.

Claro que essa capacidade da artista em transitar por entre ritmos de forma bem-sucedida parece incapaz de romper com o forte aspecto monotemático da obra. Mesmo quando estreita a relação com outros colaboradores, como em Nem Um Pouquinho, parceira com o rapper baiano Trevo, ou busca dar novo significado ao amor, como nas já citadas Meu Pisêro e Game, Duda mantém firme uma base romântica bastante similar. Canções como Meu Coração e Melô de Ilusão, que mais parecem espelhar o repertório entregue em Sinto Muito do que transitar por vias pouco convencionais. Em um ano de obras com abordagens tão plurais, como Dolores Dala Guardião do Alívio, de Rico Dalasam, e Olho de Vidro, de Jadsa, Te Amo Lá Fora nasce como um registro escorado em conceitos e histórias que há muito pareciam solucionadas pela artista. O resultado desse processo está na entrega de um trabalho que invariavelmente convence pela sensibilidade das histórias apresentadas ao público, mas que pouco avança criativamente, dependendo em excesso da colorida maquiagem instrumental.

Embora regido pela evidente previsibilidade dos temas, Te Amo Lá Fora mantém firme a inegável consistência das ideias e resgata um elemento que parece próprio da cantora pernambucana: a capacidade de dialogar com o que há de mais doloroso nas experiências sentimentais vividas por qualquer indivíduo. Da minúcia na seleção dos versos, como em Mais Ninguém (“Eu só queria te ter e se não for você / Não quero mais ninguém“), passando pelo tratamento dado às melodias, tudo parece pensado para acolher, confortar e emocionar o ouvinte. Não por acaso, Duda Beat foi uma das poucas artistas na última década a furar a própria bolha e fincar na cabeça das pessoas criações icônicas como Bixinho e Bolo de Rolo, proposta que, mesmo guiada pela ausência de novidade, deve se materializar com o presente disco.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.