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Ano: 2022

Selo: Tan Cressida / Warner

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Mike, MF DOOM e Navy Blue

Ouça: Tabula Rasa e 2010

8.0
8.0

Earl Sweatshirt: “Sick!”

Ano: 2022

Selo: Tan Cressida / Warner

Gênero: Hip-Hop, Rap

Para quem gosta de: Mike, MF DOOM e Navy Blue

Ouça: Tabula Rasa e 2010

/ Por: Cleber Facchi 20/01/2022

Passado o lançamento de Some Rap Songs (2018) e entrega do complementar Feet of Clay (2019), Earl Sweatshirt passou a investir na produção de um novo trabalho de estúdio. Inicialmente batizado de The People Could Fly, título inspirado em um livro homônimo de contos folclóricos de escravizados organizado pela pesquisadora Virginia Hamilton, o registro foi rapidamente abandonado com o avanço da pandemia de Covid-19 e consequente período de isolamento vivido nos últimos meses. “Depois que os bloqueios chegaram, as pessoas não podiam mais voar. Um sábio disse que a arte imita a vida“, comentou o artista.

Com o projeto temporariamente abandonado, Sweatshirt, a exemplo de outros compositores recentes, mergulhou na formação de um repertório cada vez mais reflexivo, melancólico e ancorado em conflitos pessoais. O resultado desse processo está nas canções de Sick! (2022, Tan Cressida / Warner), trabalho que preserva uma série de elementos que tem sido incorporados pelo artista norte-americano nos últimos registros autorais, como a poesia introspectiva e ambientações jazzísticas, mas que se permite provar de novas possibilidades e temáticas que ampliam de forma bastante sensível o campo de atuação do rapper.

Não por acaso, toda a sequência de músicas escolhidas para anunciar a chegada do registro giram em torno de memórias e experiências vividas pelo artista. São canções como 2010 e Titanic que vão dos primeiros anos de atuação ao atual período de isolamento do rapper, indicando uma permanente sensação de enclausuramento, como se Sweatshirt desse voltas dentro da própria mente. “Envie um cartão postal da profundidade / Sangrar a veia até não sobrar nada / Você parece esgotado, você deveria descansar um pouco“, detalha em meio a ambientações cíclicas, ruídos e batidas guiadas pela produção de Black Noi$e.

Parceiro desde o disco anterior, Black Noi$e é um dos responsáveis pela ambientação melancólica que ocupa toda a superfície do registro. São sintetizadores entristecidos, texturas e fragmentos empoeirados que garantem maior profundidade ao trabalho, conceito bastante evidente em Vision, enevoado encontro com o rapper Zelooperz. Mesmo quando estreita a relação com outros produtores ao longo da obra, como The Alchemist, na introdutória Old Friend e Lye, Sweatshirt em nenhum momento se distancia do mesmo cercado criativo, fazendo de cada composição um delicado exercício de passagem para a música seguinte.

A própria duração das faixas, conceitualmente resolvidas em um intervalo de poucos minutos, parece contribuir para esse resultado homogêneo do registro. É como se Sweatshirt, na contramão de outros nomes recentes da cena norte-americana, regidos pela lógica de algoritmos e obras cada vez mais extensas, investisse na produção de um repertório enxuto, porém, essencial. Canções que duram apenas o tempo necessário, potencializando de forma bastante significativa a força das rimas e sentimentos que embalam a experiência do ouvinte até a composição de encerramento do trabalho, Fire in the Hole.

Mesmo o limitado time de colaboradores que surge ao longo da obra parece incorporado de forma a favorecer a visão criativa e atmosfera proposta por Sweatshirt. É o caso da dupla Armand Hammer, na já conhecida Tabula Rasa, música que ganha forma em meio a pianos cíclicos e versos que se dividem entre temas filosóficos e inquietações existencialistas. São retalhos instrumentais e poéticos que parecem cuidadosamente selecionados e organizados pelo artista, conceito reforçado na disposição dos elementos representados na própria imagem de capa, mas que se refletem durante toda a execução do álbum.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.