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Crítica

eliminadorzinho

: "Rock Jr. "

Ano: 2021

Selo: Cavaca Records

Gênero: Indie Rock, Emo, Shoegaze

Para quem gosta de: Adorável Clichê e Terno Rei

Ouça: Eu Só Preciso de um Tempo e Trânsito (Ilusão)

8.3
8.3

eliminadorzinho: “Rock Jr.”

Ano: 2021

Selo: Cavaca Records

Gênero: Indie Rock, Emo, Shoegaze

Para quem gosta de: Adorável Clichê e Terno Rei

Ouça: Eu Só Preciso de um Tempo e Trânsito (Ilusão)

/ Por: Cleber Facchi 11/11/2021

É difícil ouvir as músicas de Rock Jr. (2021, Cavaca Records), estreia da banda paulistana eliminadorzinho, e não se sentir instantaneamente atraído pelo som produzido por Gabriel Eliott (guitarras, voz), João Pedro Haddad (baixo) e Tiago Souto Schützer (bateria). Produto final de um lento, porém, continuo processo de aprimoramento artístico, o registro de apenas nove faixas parece encapsular décadas de referências e sentimentos que vão da adolescência ao início da vida adulta de forma urgente. São canções de amor e temas existencialistas que atravessam paisagens urbanas de forma a dialogar com todo e qualquer ouvinte.

Na contramão de parte expressiva da cena paulistana, em essência consumida pelo lirismo tóxico que vitimiza figuras masculinas e demoniza mulheres, o trabalho que conta com co-produção de Luden Viana, um dos integrantes da banda E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, se distancia de possíveis gêneros em virtude de um repertório marcado pela universalidade do discurso. Muito além da exposição barata, de romances fracassados e da raiva incontida, cada composição parece apontar para dentro. São memórias de um passado ainda recente e versos sempre consumidos pela sensação de isolamento, como um mergulho angustiado na mente atormentada de qualquer indivíduo solitário, tema central do registro.

Eu só preciso de um tempo“, clama Eliott na já conhecida faixa de abertura, composição que não apenas sintetiza o lirismo inquietante que serve de sustento ao disco, como aponta a trilha ruidosa seguida pelo trio durante toda a execução do trabalho. São blocos quase intransponíveis de distorção, batidas e vozes dobradas que continuam a ecoar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento do álbum. Uma turbulenta sobreposição de elementos que confessa algumas das principais referências criativas do grupo, porém, preservando a evidente jovialidade e flerte com o pop que parece próprio da banda paulistana.

Exemplo disso fica bastante evidente em Trânsito (Ilusão). Partindo de uma base densa, por vezes íntima do som produzido pelo trio nos primeiros registros autorais, como Aniquiladorzinho (2017) e Nada Mais Restará (2016), a faixa explode em uma combinação de guitarras e vozes em coro que parece pensada para as apresentações ao vivo da banda. A mesma fluidez e imediato diálogo com o público acaba se refletindo na música de encerramento do álbum, Canção Pro Tony Andar de Skate, composição que se espalha em uma medida própria de tempo, mas que muda de ritmo e cresce ainda mais nos minutos finais.

São justamente essas frequentes oscilações e capacidade da banda em transitar por diferentes estilos que torna a experiência de ouvir o trabalho tão satisfatória. Instantes em que o trio vai de encontro ao som de veteranos como Polara, na urgência de Verde, porém, mantendo firme o diálogo com outros nomes recentes da cena paulistana, marca da cantarolável Pompeia, faixa que evoca Terno Rei e Raça. O resultado desse processo está na entrega de uma obra essencialmente ampla, ainda que concisa, como se cada composição, mesmo a mais efêmera, assumisse uma função específica para o fortalecimento do disco.

Claro que esse evidente dinamismo e maior domínio no processo de composição do trabalho não exime o trio de alguns defeitos bastante aparentes. Enquanto a base instrumental avança consideravelmente quando próxima do material entregue nos primeiros registros, em se tratando dos versos, a estreia da eliminadorzinho derrapa em momentos pontuais. São rimas fáceis e letras ancoradas de forma exaustiva em verbos no infinitivo, marca da derradeira Canção Pro Tony Andar de Skate. Instantes que tendem a minar a experiência do ouvinte, mas que em nenhum momento diminuem o impacto e capacidade da banda em estreitar a relação com o público logo em uma primeira audição do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.