Image
Crítica

Eris Drew

: "Quivering in Time"

Ano: 2021

Selo: T4T LUV NRG

Gênero: Eletrônica, Breakbeat, Deep House

Para quem gosta de: Octo Octa, India Jordan e Anz

Ouça: Time To Move Close e Quivering In Time

8.2
8.2

Eris Drew: “Quivering in Time”

Ano: 2021

Selo: T4T LUV NRG

Gênero: Eletrônica, Breakbeat, Deep House

Para quem gosta de: Octo Octa, India Jordan e Anz

Ouça: Time To Move Close e Quivering In Time

/ Por: Cleber Facchi 10/11/2021

Eu acho que já ouviu isso antes“. Esse é o pensamento que ronda a experiência do ouvinte durante toda a execução de Quivering in Time (2021, T4T LUV NRG). Estreia da produtora norte-americana Eris Drew, artista que ficou conhecida por conta de uma série de apresentações sempre intensas durante o período de isolamento social, o trabalho que transita por entre estilos costura quatro ou mais décadas de referências de forma particular. São fragmentos de música eletrônica que vão do hardcore ao techno, das raves aos clubes noturnos em um delirante combinação de elementos que convidam o ouvinte a dançar.

Síntese dessa criativa sobreposição de elementos fica bastante evidente nos primeiros minutos, em Time To Move Close. São pouco menos de sete minutos em que Drew, uma das idealizadoras do selo T4T LUV NRG e parceira de longa data de Octo Octa, com quem mantém um relacionamento, vai de um canto a outro sem necessariamente fazer disso o estímulo para uma criação confusa. São ecos da cena de Chicago, fragmentos da cultura de ballroom e vozes que continuam a reverberar na cabeça do ouvinte mesmo após o encerramento da canção. Ideias e atravessamentos ritmos que ganham ainda mais destaque na música seguinte, Pick ‘Em Up, faixa que evoca a urgência da cena inglesa, como se saída de uma rave enlamaçada.

Minutos à frente, em Loving Clav, uma completa fuga desse resultado. Faixa mais versátil do trabalho, a composição que parte de uma base cartunesca rapidamente se transforma em um labirinto de vozes, batidas e ambientações pouco usuais. É como se Drew fosse de encontro ao mesmo território criativo de India Jordan, Anz e outros nomes recentes da produção eletrônica, efeito direto da inusitada colagem de elementos e diferentes costuras rítmicas. E isso fica bastante evidente nos momentos finais da canção, em que desacelera consideravelmente de forma a abrir passagem para a música seguinte, A Howling Wind.

Passado esse respiro breve, Show U Love mais uma vez reforça a essência dançante de Quivering in Time. Inaugurada em meio a captações ao vivo, a canção engata em um jogo de batidas e sintetizadores sempre melódicos, como se saídos de alguma composição esquecida do início dos anos 1990. Instantes em que Drew aponta para o passado, porém, de forma sempre fragmentada, torta, tratamento que vai do uso das vozes à escolha dos samples. E isso fica ainda mais evidente na atmosférica Baby, música que rompe com a urgência explícita durante toda a execução do trabalho para mergulhar em um cenário totalmente imersivo, por vezes íntimo das criações de Jessy Lanza, também guiada pelo mesmo caráter nostálgico.

Entretanto, é com a chegada de Free Ride, oitava composição do disco, que Drew realmente confessa referências e estreita a relação com o passado de forma bastante significativa. Sequência ao material entregue em Sensation, música que encanta pelo reducionismo dos elementos, a canção regida pela psicodelia dos sintetizadores chama a atenção pela forma como a produtora se apropria de trechos do filme Os Anjos Selvagens (1966), trabalho do diretor Roger Corman, porém, eternizado no remix de Andrew Weatherall para Loaded, uma das principais faixas de Screamadelica (1991), do Primal Scream.

Conceitualmente diverso, como uma soma natural de tudo aquilo que Drew tem produzido nos últimos meses, Quivering in Time mantém firme o caráter dançante e evidente riqueza dos detalhes até a autointitulada música de encerramento. São pouco menos de sete minutos em que a produtora norte-americana parece brincar com o uso das vozes, sintetizadores e quebras conceituais de forma sempre imprevisível, ainda que consistente com o caminho apontado na introdutória Time To Move Close. Uma permanente sobreposição de ideias que a todo momento referencia os clássicos, porém, sustenta na fluidez dos elementos e encaixe das batidas um traço bastante característico das performances ao vivo da artista.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.