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Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Baden Powell e Willliam Tyler

Ouça: Do Interior e Floresta dos Sonhos

7.9
7.9

Fabiano do Nascimento & Daniel Santiago: “Olhos D’água”

Ano: 2024

Selo: Independente

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Baden Powell e Willliam Tyler

Ouça: Do Interior e Floresta dos Sonhos

/ Por: Cleber Facchi 12/09/2024

Depois de flertar com a produção eletrônica, em Das Nuvens (2023), e se entregar ao jazz no colaborativo The Room (2024), disco assinado em parceria com o saxofonista norte-americano Sam Gendel, difícil não pensar nas canções de Olhos D’água (2024, Independente) como um reencontro de Fabiano do Nascimento com a música brasileira. Acompanhado pelo também violonista Daniel Santiago, o instrumentista carioca nos convida a explorar um cenário dominado por paisagens bucólicas, quente e de atmosfera afetuosa.

Gravado na cidade de Brasília, Olhos D’água é um desses trabalhos que avançam aos poucos, sem pressa, conceito reforçado logo na introdutória Lágrimas de Chuva, composição que sustenta no uso de pequenas vocalizações um diálogo natural com a obra de Milton Nascimento. É como um preparativo para o que se revela de forma ainda mais detalhista na posterior Floresta dos Sonhos, música que encanta pelo uso de pequenos acréscimos que surgem ao fundo dos violões, como um passeio misterioso pela mata fechada.

Depois de assentar na econômica faixa-título, do Nascimento e Santiago voltam a brincar com os pequenos acréscimos na labiríntica Chama. São pouco mais de dois minutos em que os violões da dupla estabelecem diálogos complexos, rompendo com o caráter melódico para utilizar de uma abordagem rítmica. Instantes em que o músico carioca traz de volta a mesma riqueza de ideias explícita em trabalhos como Tempo dos Mestres (2017) e Lendas (2023), ampliando de maneira ainda mais elaborada os limites da própria criação.

Essa mesma riqueza de ideias fica ainda mais evidente com a chegada da meticulosa Do Interior. Completa pela participação da cantora e compositora mineira Jennifer Souza, a faixa segue de onde os dois músicos haviam parado em Lágrimas de Chuva, destacando o uso das vozes, porém partindo de uma abordagem quase transcendental. São harmonias e arranjos marcados pela completa maciez dos elementos, proposta que instantaneamente contrasta com a sobriedade explícita em Nene, revelada pela dupla minutos à frente.

Com a chegada de Pétalas de Haru, a dupla mais uma vez muda de direção, desacelera e passa a destacar o caráter atmosférico da obra, que agora se completa pelos sopros da musicista japonesa Sakura Okamura. São inserções sutis, porém encantadoras, como se uma fina tapeçaria instrumental cobrisse os violões. Esse capricho ainda segue até a posterior Flor de Neve, também completa pela presença de Okamura e as vozes enevoadas de Souza, como uma combinação do que há de mais fascinante no repertório de Olhos D’água.

Passado esse momento de doce comoção, Reimei encaminha o disco para o fechamento, porém tropeça ao repetir uma série de elementos testados em outras faixas no decorrer do trabalho, como o aproveitamento redundante das vozes de Souza. Nada que a posterior Já Passou não dê conta de solucionar. Minimalista, a composição volta a posicionar os violões em primeiro plano, gerando um espelhamento com a introdutória Lágrimas de Chuva que sutilmente convida o ouvinte a revisitar cada uma das canções de Olhos D’água.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.