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Ano: 2023

Selo: Now-Again Records

Gênero: Jazz, MPB

Para quem gosta de: Baden Powell e Arthur Verocai

Ouça: Solo as Onze e Fonte

8.0
8.0

Fabiano Do Nascimento: “Lendas”

Ano: 2023

Selo: Now-Again Records

Gênero: Jazz, MPB

Para quem gosta de: Baden Powell e Arthur Verocai

Ouça: Solo as Onze e Fonte

/ Por: Cleber Facchi 27/01/2023

Cada vez menos solitário dentro de estúdio, Fabiano Do Nascimento tem atuado em companhia de um time seleto de instrumentistas. Poucos meses após o lançamento de Rio Bonito (2022), trabalho em que contou com a colaboração do baixista Itiberê Zwarg, músico conhecido pelas criações em parceria com Hermeto Pascoal, o violonista fluminense está de volta com outro registro marcado pela criativa troca de experiências. Intitulado Lendas (2023, Now-Again Records), o álbum de oito faixas parte do violão sempre minucioso do artista, porém, se completa pelos arranjos de cordas assinados pelo compositor Vittor Santos.

Inaugurado pela sutileza de Retratos, Lendas apresenta parte dos elementos que serão incorporados pelo instrumentista ao longo da obra. Do violão imprevisível que assume diferentes formatações, passando pela percussão complementar, cada elemento parece cuidadosamente planejado pelo músico que há anos reside na cidade de Los Angeles, Califórnia. É como um lento desvendar de informações, estrutura que se completa pelas orquestrações de Santos, componente que ganha ainda mais destaque na composição seguinte, Fonte, criação que encolhe e cresce a todo instante, jogando com a interpretação do ouvinte.

Minutos à frente, em Palácio, o músico segue a trilha do material apresentado nos momentos iniciais, porém, posicionando o violão em primeiro plano. Enquanto as cordas de Santos correm ao fundo da canção, Do Nascimento joga com as possibilidades e transita por entre estilos em uma abordagem que muito se assemelha ao material entregue em obras como Tempo dos Mestres (2017) e Prelúdio (2020). São justamente esses pequenos acréscimos e subtrações que fazem de Lendas um exercício criativo tão atrativo, vide as oscilações incorporadas em Rio, criação que aporta na bossa nova de forma particular.

Nada que se compare ao material entregue em Solo as Onze (Noite Suite). Estruturalmente dividida em duas porções bastante características, a canção parte de um solo detalhado pelo violonista, porém, cresce nas orquestrações assinadas pelo arranjador e compositor carioca Arthur Verocai. Tudo é tratado com tamanha riqueza de detalhes que Mãe de Luz, vinda logo em sequência, quase acaba engolida. Ainda assim, o solo melancólico que resgata a mesma sensação de abandono explícita em Ykytu (2021) e o discreto uso de sopros tornam a composição de essência atmosférica difícil de ser ignorada pelo ouvinte.

A partir desse ponto, o músico utiliza de pequenas repetições e estruturas que talvez percam o ineditismo explícito nos minutos inicias do trabalho, mas que em nenhum momento deixam de comover o ouvinte. E isso fica bastante evidente em Sonho. Com o violão mais uma vez em primeiro plano, Do Nascimento brinca com a construção de uma faixa que se revela ao público em pequenas doses, sem pressa. São movimentos calculados que se completam pelas orquestrações enevoadas de Santos. A diferença está no uso destacado, ainda que econômico, da percussão, proposta que naturalmente concede à canção um caráter regionalista.

Depois de toda essa jornada instrumental, Do Nascimento pontua o registro de maneira sutil, mas não menos interessante. Escolhida para o fechamento do trabalho, Reflections rompe com o uso ocasional da percussão para mais uma vez destacar a delicadeza das cordas. Pouco menos de dois minutos em que o violonista carioca e o compositor petropolitano trazem de volta uma série de elementos testados ao longo do registro, utilizam da sempre minuciosa sobreposição dos arranjos e convidam o ouvinte a se perder em um ambiente reconfortante, como um espaço místico e imaginário que dialoga com o próprio título da obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.