Image

Ano: 2022

Selo: Rings

Gênero: Jazz, MPB

Para quem gosta de: Baden Powell e Hermeto Pascoal

Ouça: Strings For My Guitar e Kaleidoscope

8.0
8.0

Fabiano Do Nascimento & Itiberê Zwarg Collective: “Rio Bonito”

Ano: 2022

Selo: Rings

Gênero: Jazz, MPB

Para quem gosta de: Baden Powell e Hermeto Pascoal

Ouça: Strings For My Guitar e Kaleidoscope

/ Por: Cleber Facchi 15/12/2022

Um dos principais traços da obra de Fabiano Do Nascimento sempre foi o reducionismo dos elementos. Utilizando do próprio violão e pequenos acréscimos de percussão, o compositor carioca que hoje reside na cidade de Los Angeles, Califórnia, deu vida a uma seleção de trabalhos marcados pelo minucioso processo de criação. Interessante perceber em Rio Bonito (2022, Rings), mais recente lançamento do violonista fluminense, um material que segue a trilha dos registros que o antecedem, evidenciando o refinamento estético de Nascimento, porém, de maneira ampliada e aberta ao diálogo com novos colaboradores.

Sequência ao material entregue em Ykytu (2021), trabalho que reflete a melancólica sensação de isolamento vivida por diferentes indivíduos durante o período pandêmico, Rio Bonito é uma obra que celebra reencontros, cresce e transporta o som produzido pelo violonista para um novo e inusitado território criativo. Não por acaso, Nascimento contou com a interferência direta do experiente Itiberê Zwarg, baixista e compositor conhecido pelas criações em colaboração com Hermeto Pascoal, mas que aqui se junta ao filho, o baterista Ajurinã Zwarg, e outros instrumentistas para formar um coletivo de jazz.

Escolhida como composição de abertura, Starfish é apenas uma pequena mostra de tudo aquilo que o músico e seus parceiros de estúdio buscam desenvolver ao longo do trabalho. São pouco mais de dois minutos em que o ouvinte é convidado a mergulhar em uma corredeira de sons e pequenos acréscimos instrumentais, estrutura que resgata e potencializa uma série de elementos originalmente testados em registros como Tempo dos Mestres (2017) e Prelúdio (2020). Instantes em que o grupo transita por entre estilos de forma sempre detalhista, como uma síntese do que será desenvolvido ao longo do material.

Com base nesse direcionamento grandioso, Rio Bonito faz de cada composição um objeto de destaque, mesmo quando tende ao recolhimento. Exemplo disso fica bastante evidente em Emotivo, música que traz de volta a atmosfera explícita no repertório de Ykytu, porém, pontuada pela percussão ritmada e sempre dominante de Ajurinã. O mesmo acontece em Luz das Águas, canção de essência bucólica que encanta pelo lento desvendar das informações. Surgem ainda criações como a discreta Just Piano, faixa que, como o próprio título aponta, deixa o violão e outros componentes de lado para valorizar o uso dos pianos.

Entretanto, sobrevive nos momentos de maior grandeza e interferência dos demais colaboradores a passagem para o que há de mais interessante no repertório de Rio Bonito. Música de encerramento do disco, Kaleidoscope funciona como uma boa representação desse resultado. Do uso dos metais, passando pela percussão festiva e incontáveis camadas instrumentais, tudo parece pensado para atrair e capturar a atenção do ouvinte. O próprio Nascimento parece brincar com esses pequenos acréscimos nas duas interpretações de Strings For My Guitar. É como um ziguezaguear de ideias, ritmos e referências criativas.

Ponto de partida para uma nova fase na carreira de Nascimento, Rio Bonito preserva e perverte uma série de elementos bastante característicos no som produzido pelo violonista. São canções que partem de uma abordagem reducionista, porém, completas pela sobreposição de elementos e caminho desobstruído para a interferência de diferentes colaboradores e parceiros criativos. É como um ponto de encontro conceitual, um espaço aberto à troca de experiências, proposta que vai do título da obra, inspirado em um município no interior do estado do Rio de Janeiro, ao direcionamento incorporado dentro de cada composição.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.