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Ano: 2023

Selo: Leaving Records

Gênero: Jazz, Instrumental, Eletrônica

Para quem gosta de: Baden Powell e Hermeto Pascoal

Ouça: Yûgen e Das Nuvens

6.0
6.0

Fabiano Do Nascimento: “Das Nuvens”

Ano: 2023

Selo: Leaving Records

Gênero: Jazz, Instrumental, Eletrônica

Para quem gosta de: Baden Powell e Hermeto Pascoal

Ouça: Yûgen e Das Nuvens

/ Por: Cleber Facchi 03/08/2023

Depois de uma década dedicado ao estudo do violão e produção de obras marcadas pelo refinamento acústico, Fabiano do Nascimento amplia o próprio campo de atuação com o lançamento de Das Nuvens (2023, Leaving Records). Concebido em parceria com Daniel Santiago, que também assumiu a arte do trabalho, o registro de onze faixas chama a atenção pelo inusitado diálogo do violonista carioca radicado em Los Angeles com a música eletrônica. São canções marcadas pelo caráter exploratório e uso sempre calculado das batidas e bases sintéticas, como o princípio de uma nova fase na carreira do compositor.

Com base nesse proposta, toda a porção inicial do registro parece pensada para introduzir o ouvinte ao novo território criativo explorado pelo artista. Em Babel, são camadas de sintetizadores e fragmentos rítmicos que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, sem pressa, como um ensaio para o que parece melhor resolvido na posterior Thrdwrld, quando não apenas as batidas reverberam com maior destaque, como o violão, principal ferramenta de trabalho do músico, ecoa de forma cristalina. É como se cada canção servisse de passagem para a faixa seguinte, vide o desenho completo em Train to Imagination.

Uma vez apresentadas todas as regras e estruturas que caracterizam o registro, o compositor carioca se permite brincar com as possibilidades. Faixa-título e canção escolhida para anunciar a chegada do disco, Das Nuvens funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco mais de três minutos em que o artista contrasta a atmosfera jazzística com o atravessamento das batidas e teclas futurísticas. É como um ensaio para o que se revela de forma menos compacta e totalmente fluida em Yûgen, música que detalha, mesmo em um curtíssimo intervalo de tempo, diferentes camadas e sobreposições instrumentais.

Minutos à frente, com a chegada de Aurora, Do Nascimento abre passagem para o lado contemplativo do disco. Com o violão em segundo plano, o músico carioca destaca o uso das texturas e ambientações eletrônicas, como um convite a se perder em um cenário marcado pela flutuação dos elementos. Embora atrativa em uma primeira audição, esse reducionismo excessivo e uso de estruturas bastante similares aos poucos evidencia as pequenas rachaduras do trabalho. Exemplo disso pode ser percebido em Eterno, faixa que soa como uma reinterpretação pouco expressiva do material apresentado logo na introdutória Babel.

Mesmo quando oferece maior destaque ao violão e preenche possíveis espaços com as batidas, como em Stranger Nights, prevalece a sensação de uma obra arrastada, por vezes cíclica, como se o ouvinte fosse confinado a um ambiente que pouco evolui conceitualmente. Falta ao disco a mesma riqueza de detalhes e pequenos improvisos incorporados aos antigos trabalhos do violonista que, em diversos momentos, esbarra em um resultado puramente paisagístico, vide a sequência formada por Blu’s Dream e 3 Pontas. Composições que parecem dar voltas em torno de um mesmo conjunto de ideias e formatações rítmicas.

Nesse sentido, Das Nuvens soa muito mais como um estudo do que necessariamente um trabalho completo. A própria duração das faixas, resolvidas em um intervalo de poucos minutos, bem como o uso pequenas repetições estruturais, parece contribuir para esse resultado, conceito que se reflete até os momentos finais, na esquelética Amoroso. São ideias interessantes e naturalmente corajosas quando observamos o vasto repertório consolidado pelo artista carioca, mas que parecem incapazes de causar a mesma sensação de impacto percebida em qualquer outro registro, antigo ou recente, produzido pelo violonista.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.