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Crítica

FBC

: "O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Rap, Funk, Soul

Para quem gosta de: Mano Brown e Nill

Ouça: Madrugada Maldita e Químico Amor

7.4
7.4

FBC: “O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Rap, Funk, Soul

Para quem gosta de: Mano Brown e Nill

Ouça: Madrugada Maldita e Químico Amor

/ Por: Cleber Facchi 07/08/2023

Mesmo longe de parecer um iniciante, o sucesso em torno de Baile (2021), bem sucedida colaboração com o produtor VHOOR, fez com que FBC fosse apresentado à uma parcela ainda maior de ouvintes. Contudo, ao embarcar nas canções de O Amor, O Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta (2023, Independente), mais recente lançamento do rapper mineiro em carreira solo, não espere por um possível regresso ao mesmo território criativo do registro que o antecede. O olhar para o passado ainda orienta as criações do artista, mas as referências sonoras, a estética e a direção apontada é completamente distinta.

Acompanhado pela dupla de produtores formada por Pedro Senna e Ugo Ludovico, além das vozes de Aline Magalhães, Sàvio Faschét, Iolanda Souza, Sarah Reis, Fernanda Valadares, FBC passeia pelos anos 1970, 1980 e 1980 em uma deliciosa combinação de elementos que vai dos primórdios do funk ao uso de temas sintéticos que desembocam na house music. Um misto de passado e presente que encontra em amores desfeitos, noites de excessos, conflitos e crises existenciais o estímulo para a formação de um fino repertório que conduz a música do artista mineiro em direção ao cosmos, para além dos limites terrenos.

O que te faz ir pra outro planeta?“, questiona o artista em meio a camadas de sintetizadores, batidas e vozes declamadas que partilham do mesmo misticismo cósmico de Jorge Ben Jor e Tim Maia. São canções que nascem de inquietações noturnas, mas que parecem ir além de um simples fluxo de pensamento, como um acumulo natural das ideias e observações sempre minuciosas de FBC. Assim como no repertório de Baile, a suculenta base rítmica oculta e ao mesmo tempo revela um precioso catálogo de narrativas que aportam em diferentes territórios de forma tão contemplativa quanto pensada para fazer o ouvinte dançar.

Em Madrugada Maldita, por exemplo, são versos que partem de uma relação conflituosa para mergulhar no isolamento estimulado pelas redes sociais, conceito que volta a se repetir em músicas como Dilema das Redes e Antissocial, em que estreia laços com nomes como Nill e Abbot. Nada que prejudique a construção de faixas menos exploratórias, destacando momentos de maior vulnerabilidade emocional. É o caso de Estante De Livros, composição em que folheia as páginas de um relacionamento desfeito, abre passagem para a chegada do rapper Don L e ainda preserva o direcionamento dançante que movimenta o trabalho.

Com todos esses elementos em mãos, diálogos com diferentes colaboradores e propostas criativas, O Amor, o Perdão e a Tecnologia Irão Nos Levar Para Outro Planeta é uma obra que naturalmente exige tempo até ser absorvida em totalidade pelo ouvinte. Entretanto, a longa duração e o uso de pequenas repetições temáticas, principalmente na segunda metade do trabalho, diminuem o brilho do material. Outro problema diz respeito ao uso da voz de FBC que, em contraste com os arranjos, o próprio coro de vozes que o cerca e a produção de Senna e Ludovico, surge de forma torta, por vezes incompatível com a qualidade do disco.

Ainda assim, escapar da jornada emocional, cósmica e existencial proposta pelo artista é uma tarefa quase impossível. Seja pelo teor dançante de músicas como Químico Amor, composição em que utiliza de elementos de Physical, de Olivia Newton-John, ou pelo caráter reflexivo de Atmosfera, faixa que avança em uma medida particular de tempo, cada fragmento do álbum parece pensada para capturar a atenção do ouvinte. Mesmo a escolha em romper com a trilha percorrida no disco anterior torna tudo ainda mais especial, como um indicativo do esforço permanentemente de FBC em testar os limites da própria obra.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.