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Crítica

Flying Lotus

: "Yasuke"

Ano: 2021

Selo: Warp

Gênero: Eletrônica, Instrumental Hip-Hop, IDM

Para quem gosta de: Thundercat e Madlib

Ouça: Black Gold e African Samurai

7.5
7.5

Flying Lotus: “Yasuke”

Ano: 2021

Selo: Warp

Gênero: Eletrônica, Instrumental Hip-Hop, IDM

Para quem gosta de: Thundercat e Madlib

Ouça: Black Gold e African Samurai

/ Por: Cleber Facchi 13/05/2021

Quem há tempos acompanha o trabalho de Steven Ellison, o Flying Lotus, sabe do fascínio do artista californiano pela cultura oriental, principalmente a música, animes e mangás que ganharam o mundo entre os anos 1980 e 1990. Não por acaso, quando o produtor LeSean Thomas, que trabalhou em animações como Avatar: A Lenda de Korra e Black Dynamite, recebeu a autorização da Netflix para produzir uma série inspirada na história real de um samurai negro que viveu no Japão do século XVI, Ellison instantaneamente foi convidado a integrar o projeto. O resultado dessa parceria está em Yasuke (2020), seriado de seis episódios que incorpora elementos de fantasia e ficção científica em uma trama embalada pelas batidas e sintetizadores cósmicos do compositor norte-americano.

Naturalmente íntimo de tudo aquilo que Ellison tem produzido desde o amadurecimento artístico em Cosmogramma (2010), o trabalho de 26 faixas passeia por entre ritmos e referências criativas de forma tão referencial e nostálgica quanto autoral. Canções que partem de uma combinação entre jazz, funk, produção eletrônica e hip-hop, conceito que alcançou melhor resultado durante o lançamento de You’re Dead! (2014), grande obra de Flying Lotus, mas que volta a se repetir em parte expressiva do repertório que embala o presente disco. Um misto de passado e presente, mas que em nenhum momento abandona a essência futurística do artista, tratamento bastante evidente em algumas das principais faixas do registro, como na sonoridade plural Your Armor e na introdutória War At The Door.

A principal diferença em relação aos antigos trabalhos do produtor, incluindo outras trilhas sonoras, está na forma como Ellison incorpora elementos típicos da cultura oriental. E isso fica bastante destacado no uso do taiko, tradicional tambor japonês, como importante elemento percussivo. São sobreposições ritmadas que surgem e desaparecem durante toda a execução do registro. Exemplo disso acontece logo nos primeiros minutos do álbum, em Your Lord, composição que sintetiza parte das experiências e temas instrumentais incorporados ao longo da obra. O próprio uso das cordas, emulando a sonoridade de kotos e biwas, contribui para esse direcionamento, proposta que volta a se repetir em outros momentos, como em Hiding in the Shadows, parceria com Niki Randa.

Claro que isso não impede Flying Lotus de transitar por diferentes território criativos. Perfeita representação desse resultado acontece em Mind Flight, música que preserva a percussão característica do restante da obra, porém, carrega nos sintetizadores um evidente diálogo com as criações de Vangelis, principalmente quando voltamos os ouvidos para as melodias atmosféricas de Blade Runner (1982). O próprio Ellison, há quatro anos, foi convidado a produzir a trilha sonora de Blade Runner Black Out 2022 (2017), animação que acompanha a refilmagem de Denis Villeneuve para o clássico de Ridley Scott. Surgem ainda músicas como Crust, um soul retro-futurista adornado pelo dedilhado latino, ruídos e camadas de sintetizadores, além da eletrônica enevoada de This Cursed Life.

Entretanto, sobrevive no diálogo com diferentes colaboradores a passagem para alguns dos momentos de maior notoriedade do trabalho. E isso fica bastante evidente em Black Gold. Música de abertura do seriado, a canção ganha ainda mais destaque na voz de Stephen Bruner, o Thundercat, parceiro de longa data de Ellison. “Um mundo tão novo, possibilidades infinitas / Uma identidade totalmente nova / Você não pode ver? Ouro negro do Sol“, canta em uma clara referência ao protagonista da animação. O mesmo acerto acaba se refletindo em African Samurai, composição que cresce nas rimas de Denzel Curry. Mesmo Nicki Randa, dona das vozes na já citada Hiding in the Shadows, toma conta da derradeira Between Memories, faixa completa pelo baixo Bruner.

O problema é que muitas dessas composições acabam se desenvolvendo em um intervalo exageradamente curto de tempo. Conhecido pela produção de faixas que se resolvem em poucos minutos, Ellison adota uma abordagem ainda mais sucinta, rompendo de maneira antecipada com a construção de músicas, principalmente melancólicas, que dependeriam de um maior aprofundamento. Dessa forma, prevalece a sensação de uma obra inacabada, como esboços que funcionam dentro dos limites da tela, suplantadas pelo complemento das imagens e trama de Yasuke, mas que pouco avançam criativamente dentro da discografia de Flying Lotus, tratamento reforçado no preciosismo de registros como o já citado You’re Dead! e o também detalhista Until the Quiet Comes (2012).

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.