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Crítica

Fontaines D.C.

: "Romance"

Ano: 2024

Selo: XL Recordings

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Shame e Idles

Ouça: Starbuster, Favorite e Here’s The Thing

8.2
8.2

Fontaines D.C.: “Romance”

Ano: 2024

Selo: XL Recordings

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Shame e Idles

Ouça: Starbuster, Favorite e Here’s The Thing

/ Por: Cleber Facchi 30/08/2024

Mesmo longe de casa, os integrantes do Fontaines D.C. encontraram uma forma de explorar a relação com o país de origem, a Irlanda, de forma sempre pertinente. Exemplo disso fica bastante evidente em Skinty Fia (2022), trabalho em que Grian Chatten e seus parceiros de banda transformam a mudança para a cidade de Londres e a saudade de Dublin no estímulo para um repertório que se aprofunda em questões como a passagem do tempo, conflitos políticos e todo um catálogo de composições marcadas por temas pessoais.

Interessante perceber em Romance (2024, XL Recordings), quarto e mais recente trabalho de estúdio da banda, uma obra que não apenas rompe com essa lógica, como amplia os horizontes do quinteto irlandês. Princípio de uma nova fase na carreira do grupo, o registro inverte a lógica local para explorar o universo ao redor. A própria escolha em substituir Dan Carey, com quem vinham trabalhando desde Dogrel (2019), por James Ford (Jessie Ware, Arctic Monkeys), funciona como uma clara representação desse resultado.

Eu me sinto vivo”, canta Chatten em In The Modern World, música em que alterna entre a libertação e o contrastante contato com a realidade (“No mundo moderno / Eu não sinto nada”). São canções que partem de observações mundanas, relações com outras pessoas e diferentes formas de artes, como o declarado interesse do grupo pelo cinema, animes e mangás, mas que se completam pelas experiências pessoais de seus realizadores. É como um vasto catálogo de ideias que rompe com todo e qualquer traço de conforto.

Esse novo direcionamento acaba se refletindo não apenas na construção dos versos e temas explorados pela banda, mas principalmente na base instrumental e diferentes percursos explorados pelo grupo ao longo do trabalho. Primeira composição do disco a ser revelada ao público, Starburster sintetiza isso de forma impactante. Enquanto Chatten segue em um misto de canto e rima, refletindo sobre um ataque de pânico que teve no metrô, batidas e bases que tendem ao trip hop levam o quinteto para outras direções.

É como se cada composição abrisse passagem para um novo território criativo. Em Here’s The Thing, por exemplo, são guitarras que instantaneamente apontam para a década de 1990, soando como uma canção perdida de Graham Coxon no Blur. Já em Sundowner, com vozes assumidas por Connor Curley, emanações etéreas esbarram no dream pop do Slowdive. Surgem até faixas como Favourite, um jangle pop que destaca o lado melódico da banda, como um esforço involuntário em dialogar com uma parcela maior do público.

Naturalmente, esse esforço em trilhar diferentes percursos e provar de novas sonoridades torna a audição do disco bastante confusa em alguns momentos. A própria mudança de ritmo e uso de bases acústicas no eixo central do registro compromete a experiência do ouvinte, como se a banda fosse incapaz de manter a mesma consistência que vem sendo trabalhada desde A Hero’s Death (2020). Um misto de ambição e fino toque de desequilíbrio, mas que em nenhum momento prejudica a capacidade do grupo em surpreender o ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.