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Crítica

Frankie Cosmos

: "Inner World Peace"

Ano: 2022

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Snail Mail e Soccer Mommy

Ouça: Aftershook e One Year Stand

7.5
7.5

Frankie Cosmos: “Inner World Peace”

Ano: 2022

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie Pop, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Snail Mail e Soccer Mommy

Ouça: Aftershook e One Year Stand

/ Por: Cleber Facchi 08/11/2022

Greta Kline, como muito dos artistas durante a pandemia de Covid-19, aproveitaram do longo período de isolamento social para mergulhar na construção de novas canções. No caso da cantora e compositora nova-iorquina, conhecida pelo aspecto prolífico de suas obras como Frankie Cosmos, o repertório foi ainda maior. Segundo Kline, foram mais de 100 composições geradas de forma totalmente caseira. De versos introspectivos e melancólicos a registros quase documentais, parte desse material foi agora organizado de forma a abastecer o novo trabalho de estúdio da guitarrista, o delicado Inner World Peace (2022, Sub Pop).

Marcado pelo reducionismo dos elementos, o sucessor de Close It Quietly (2019) nasce como uma das obras mais sensíveis e intimistas da carreira de Kline. “Cabeça vazia / É legal não ter nada nela / Tudo bem não cantar uma música sobre tudo / O tempo todo“, sussurra na já conhecida Empty Head, música que serve de passagem para o infinito particular da cantora e sintetiza parte das inquietações, temas e conceitos explorados ao longo da obra. São composições que partem de pensamentos aleatórios, muitas vezes despretensiosos, porém, ampliados pelo minucioso processo de criação da artista norte-americana.

Exemplo disso acontece em Aftershook, delicada composição que começa pequena, cresce aos poucos e se aprofunda nos tormentos vividos por Kline durante o período de isolamento. “Estar cansada e estar ciente / Posicionados em lados opostos da escala / Tentar entrar na mentalidade certa / Mas não está lá, não é justo“, detalha em meio a camadas de guitarras e arranjos econômicos. O mesmo acontece minutos à frente, em Street View, música em que desaba emocionalmente. “Eu estava fazendo tanto progresso / Agora há coisas novas para processar / Parece que é uma arte imperfeita / Espero que não desmorone“, reflete.

Com as letras sempre em destaque, Kline e seus parceiros de banda, os músicos Alex Bailey, Lauren Martin e Luke Pyenson, se concentram na formação de uma base instrumental essencialmente discreta. Entre guitarras ocasionais e batidas sempre calculadas, prevalece o uso de sintetizadores e melodias quase enevoadas, como se pensadas para envolver as vozes da artista. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, One Year Stand funciona como uma boa representação desse resultado. É como um delicado exercício criativo que lentamente potencializa os sentimentos expressos pela cantora.

Entretanto, mais do que uma obra contida, Inner World Peace estabelece momentos de maior ebulição que rompem com qualquer traço de morosidade. É o caso de F.O.O.F., um pop rock cantarolável que vai de encontro ao mesmo território criativo de outros trabalhos produzidos por Frankie Cosmos, como Next Thing(2016) e Vessel (2018). A própria composição de encerramento do álbum, Heed The Call, mesmo partindo de uma solução econômica, logo destaca a força das guitarras e batidas. Dessa forma, sempre que o disco parece próximo de um material desgastante, Kline e os demais membros voltam a surpreender.

O resultado desse processo está na entrega de uma obra essencialmente equilibrada. Diferente do material revelado no disco anterior, em que pecava pelo excesso de composições, muitas delas totalmente descartáveis, prevalece em Inner World Peace a formação de um repertório enxuto e bem direcionado, ainda que muitas das canções utilizem de uma abordagem atmosférica. É como uma manifestação das angústias, medos e experiências sentimentais que movimentaram o cotidiano de Kline durante o período pandêmico, mas que parecem reverberar e sobreviver para além desse cenário de dor e solidão.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.