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Crítica

Fred Again..

: "Actual Life 2 (February 2 – October 15, 2021)"

Ano: 2021

Selo: Atlantic Records

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Jamie XX, Four Tet e Burial

Ouça: Hannah (The Sun) e Kahan (Last Year)

7.6
7.6

Fred Again..: “Actual Life 2 (February 2 – October 15, 2021)”

Ano: 2021

Selo: Atlantic Records

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Jamie XX, Four Tet e Burial

Ouça: Hannah (The Sun) e Kahan (Last Year)

/ Por: Cleber Facchi 30/11/2021

Da imagem de capa improvisada à construção das faixas, sempre pontuadas por fragmentos de vozes e mensagens enviadas pelo celular, poucos artistas souberam como incorporar o período de isolamento social de forma tão genuína e sensível quanto o britânico Fred Again. E isso fica bastante evidente em cada uma das composições apresentadas no melancólico Actual Life (April 14 – December 17 2020) (2021), registro que parte das inquietações, medos e sensação de abandono vivida pelo produtor desde o início da pandemia, mas que se conecta de forma bastante natural com as experiências de qualquer indivíduo.

Poucos meses após o lançamento do álbum, Fred Again.. está de volta com o complementar Actual Life 2 (February 2 – October 15, 2021) (2021, Atlantic Records). Como indicado no nome do trabalho, trata-se de um registro documental de tudo aquilo que o produtor inglês viveu em um intervalo de oito meses. São canções que se conectam diretamente aos momentos de maior melancolia do artista, porém, sempre pontuadas por instantes de doce celebração, tratamento que vai da construção das batidas ao diálogo conceitual com diferentes personagens que aparecem referenciados no título de cada composição.

O resultado desse processo, assim como no material entregue no disco anterior, está na produção de um registro essencialmente agridoce. São canções que convidam o ouvinte a dançar, mesmo consumidas pela melancolia impressa nas letras e inserções pontuais que abastecem o trabalho. Exemplo disso fica bastante evidente na já conhecida Hannah (The Sun). Enquanto os versos refletem a sensação de isolamento e saudade que consome o eu lírico – “Para fazer aqueles arco-íris em minha mente / Eu penso em você às vezes / Quando o sol vem brilhando” –, batidas cuidadosamente encaixadas convidam o ouvinte a dançar.

É como se Fred Again.. fosse de encontro ao mesmo território criativo de Burial e outros nomes importantes da cena inglesa, similaridade reforçada nas vozes submersas e batidas tortas que se espalham ao longo do trabalho. Perfeita representação desse resultado fica bastante evidente em Faisal (Envelops Me). São pouco mais de quatro minutos em que o produtor britânico garante ao público uma canção que pode ser absorvida de forma rápida, em uma audição superficial, mas que encanta na forma como incontáveis camadas instrumentais, texturas e vozes parecem espalhadas pelo artista ao fundo da composição.

Dessa forma, o produtor garante ao público uma obra que preserva a essência do registro apresentado há poucos meses, mas que se permite provar de novas possibilidades e direções criativas pouco usuais. E isso fica bastante evidente nos momentos de maior melancolia do álbum. Livre da urgência que orienta parte expressiva do trabalho, Fred Again.. se concentra na produção de músicas marcadas pelo reducionismo dos elementos, porém, sempre detalhistas. É o caso de Kahan (Last Year), bem-sucedido encontro com o rapper norte-americano Kodak Black, mas que encanta pelo labirinto sensorial proposto pelo artista inglês.

Próximo e ao mesmo tempo distante de tudo aquilo que Fred Again.. havia testado no disco anterior, Actual Life 2 (February 2 – October 15, 2021) encanta pela familiaridade dos elementos apresentados pelo produtor, vide o uso das vozes, mas que a todo momento aportam em novos territórios criativos, ritmos e possibilidades. A principal diferença em relação ao material entregue há poucos meses, quando o artista parecia consumido pela própria dor, está nos momentos de maior euforia e evidente celebração, como a passagem para um cenário pós-pandêmico e esperançoso, porém, sempre consciente da realidade.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.