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Crítica

Future Islands

: "People Who Aren’t There Anymore"

Ano: 2024

Selo: 4AD

Gênero: Synthpop

Para quem gosta de: Twin Shadow e Hot Chip

Ouça: The Tower, Peach e Say Goodbye

7.6
7.6

Future Islands: “People Who Aren’t There Anymore”

Ano: 2024

Selo: 4AD

Gênero: Synthpop

Para quem gosta de: Twin Shadow e Hot Chip

Ouça: The Tower, Peach e Say Goodbye

/ Por: Cleber Facchi 05/02/2024

Como muitos dos artistas que ensaiaram um retorno para o ano de 2020, os integrantes do Future Islands foram frustrados pelo avanço da pandemia de Covid-19. Não por acaso, poucos meses após o lançamento de As Long as You Are (2020), o grupo formado pelos músicos Samuel T. Herring, Gerrit Welmers, William Cashion e Michael Lowry estava de volta com a inédita Peach. Mais do que um ato isolado, a composição adornada pelo uso dos sintetizadores era a primeira de uma sequência de outras canções que juntas dão vida ao mais recente trabalho de estúdio da banda, People Who Aren’t There Anymore (2024, 4AD).

Como indicado no título da obra, trata-se de um exercício criativo marcado pela passagem do tempo e as transformações pessoais vividas pelos integrantes da própria banda. Composições que partem do período de isolamento social, porém, vão além de um limite de tempo específico, como uma manifestação clara dos sentimentos que habitam a alma de Herring, principal compositor do grupo. “Há uma torre / No oceano / Derramando através de mim / Essa é a minha vontade e testamento“, confessa em The Tower, música que sintetiza parte das temáticas que orientam a experiência do ouvinte durante toda a execução do material.

Em geral, são canções dotadas de um existencialismo sombrio, como uma manifestação das angústias que invadem a mente de Herring. Uma melancólica combinação de sentimentos que contrasta com a fina base melódica projetada pela banda para fazer o ouvinte dançar. Perfeita representação desse resultado pode ser percebida em Give Me the Ghost Back. Enquanto os versos destacam o lirismo atormentado do artista (“Eu sou apenas um animal que se esforça contra meu limite / Eu empurro e puxo a corda, para me fazer sentir vivo“), batidas e sintetizadores coloridos delicadamente conduzem o ouvinte para outra direção.

Obviamente, se você acompanha o trabalho do Future Islands há bastante tempo, ou pelo menos desde o sucesso gerado com Singles (2014), esse tipo de abordagem está longe de parecer uma novidade. Do uso dos sintetizadores ao tratamento dado aos arranjos, tudo gira em torno de um mesmo conjunto de ideias. Dessa forma, sobrevive na meticulosa construção dos versos o principal componente criativo do registro. Composições que alternam entre letras descritivas e momentos de maior contemplação que destacam a sensibilidade poética de Herring, como uma extensão das últimas empreitadas da banda em estúdio.

A diferença em relação aos antigos trabalhos da banda, sempre marcados pela pluralidade temática, está no olhar atento de Herring para as questões românticas. Em união com a atriz sueca Julia Ragnarsson há quase uma década, o músico norte-americano transporta para dentro do repertório do disco parte das alegrias e diferentes experiências da vida a dois. “Onde você vai, eu vou, apenas diga, eu estarei / Porque você é tudo que eu preciso“, canta na já conhecida King Of Sweden, criação que, assim como Deep In The Night, a já citada Peach e outras composições no decorrer do registro, evidenciam a entrega do artista.

Partindo dessa abordagem, Herring e seus parceiros de banda garantem ao público um álbum próximo e ao mesmo tempo distante dos registros que o antecedem. São composições que partilham de uma base instrumental bastante característica, como uma continuação de tudo aquilo que o quarteto havia testado em trabalhos como Singles e The Far Field (2017), mas que sustentam nos versos um sutil componente de renovação. Fragmentos poéticos que confessam sentimentos e estabelecem no olhar atencioso para coisas simples do cotidiano o estímulo para um material conceitualmente simples, porém, rico em significado.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.