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Crítica

Gabrre

: "Don't Rush Greatness"

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Indie Pop, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Catavento

Ouça: Água de Beber e None Of Them / Hoje Eu Vou

7.5
7.5

Gabrre: “Don’t Rush Greatness”

Ano: 2023

Selo: Independente

Gênero: Indie Pop, Pop Psicodélico

Para quem gosta de: Boogarins e Catavento

Ouça: Água de Beber e None Of Them / Hoje Eu Vou

/ Por: Cleber Facchi 18/04/2023

Entregue ao público no meio da pandemia de Covid-19, Tocar Em Flores Pelado (2020), álbum de estreia do cantor, compositor e multi-instrumentista Gabriel Fetzner, o Gabrre, parecia servir de passagem para um território particular do músico gaúcho que hoje reside na cidade de Lisboa, em Portugal. Enquanto os versos mergulhavam em temas existencialistas, conflitos sentimentais e no isolamento vivido pelo artista durante o processo de criação da obra, arranjos marcados pela psicodelia dos elementos se projetavam de forma a moldar a identidade criativa e evidenciar algumas das principais referências adotas por Fetzner.

Três anos após a apresentação do registro, o músico gaúcho segue de onde parou para investir em um novo disco de inéditas, Don’t Rush Greatness (2023, Independente). Assim como o álbum que o antecede, o trabalho de nove faixas se revela ao público em pequenas doses. São sobreposições instrumentais, rítmicas e poéticas, como um permanente desvendar de informações. A própria escolha de Água de Beber como canção de abertura funciona como uma boa representação desse resultado. Um jogo de pequenos acréscimos que quase sempre culmina em um fechamento grandioso, capturando a atenção do ouvinte.

Embora formulaica, essa abordagem em nenhum momento prejudica o desenvolvimento do disco. Parte desse resultado vem do maior refinamento instrumental adotado pelo músico durante toda a execução do material. Exemplo disso fica bastante evidente em Exhausted, terceira faixa do álbum. Partindo de uma base cíclica de bateria, Fetzner utiliza de pequenos acréscimos que vão das camadas de guitarras ao uso de efeitos borbulhantes e sintetizadores cósmicos que surgem ao longo da composição. Mesmo as vozes funcionam como um instrumento complementar, ampliando significativamente os limites do trabalho.

E essa riqueza de detalhes fica ainda mais evidente nos momentos em que Gabrre estreita laços com outros colaboradores no decorrer do registro. É o caso de When It’s Over. Completa pela participação da cantora e compositora gaúcha Oliva, a faixa transporta o disco para um novo território, efeito da completa sutileza no uso dos vocais e pequenas costuras instrumentais que parecem potencializar tudo aquilo que Fetzner tem desenvolvido desde o álbum anterior. Pouco mais de três minutos em que o músico parte de um ambiente labiríntico e soturno, lembrando as criações do Deerhunter, para mergulhar em mundo mágico.

Nada que prepare o ouvinte para o material entregue na transcendental None Of Them / Hoje Eu Vou. Uma das primeiras composições do disco a serem apresentadas ao público, a faixa de versos bilíngues parte de uma abordagem contida, porém, cresce aos poucos, resultando em um fechamento totalmente catártico. São incontáveis camadas instrumentais, batidas e vozes adicionais de Andressa Moreira, como uma delirante combinação do que há de melhor e mais característico no som produzido por Fetzner. Tudo é tão grandioso que What Happened To Us, encaixada logo em sequência, é praticamente engolida pela canção.

Dessa forma, dividido entre criações grandiosas e músicas serenas, Gabrre garante ao público uma obra equilibrada, como uma extensão natural do repertório apresentado durante o lançamento de Tocar Em Flores Pelado. São oscilações estruturais que acabam se refletindo no próprio direcionamento lírico dado ao disco, sempre pontuado por momentos de libertação e doce de melancolia. Canções que preservam na mesma medida em que rompem com a atmosfera caseira explorada no trabalho anterior, indicativo do esforço do artista em provar de novas possibilidades e diferentes direções criativas ao longo do trabalho.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.