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Crítica

Gaby Amarantos

: "Purakê"

Ano: 2021

Selo: Deckdisc

Gênero: Pop, Tecnobrega

Para quem gosta de: Jaloo e Potyguara Bardo

Ouça: Opará, Rio e Vênus em Escorpião

7.3
7.3

Gaby Amarantos: “Purakê”

Ano: 2021

Selo: Deckdisc

Gênero: Pop, Tecnobrega

Para quem gosta de: Jaloo e Potyguara Bardo

Ouça: Opará, Rio e Vênus em Escorpião

/ Por: Cleber Facchi 21/09/2021

Nove anos se passaram desde que Gaby Amarantos deu vida ao primeiro trabalho de estúdio da carreira, Treme (2012). De lá pra cá, salve composições esporádicas, caso de Cachaça de Jambu e Ilha do Marajó (Gira a Saia), e encontros com diferentes artistas, como Duda Beat e Jaloo, pouco foi apresentado pela cantora e compositora paraense que divide as funções como apresentadora em programas como Saia Justa e The Voice Kids. Ponto de ruptura desse longo período de hiato, Purakê (2021, Deckdisc), segundo registro de inéditas de Amarantos, não apenas resgata tudo aquilo que foi entregue no disco anterior, como aponta para novas direções criativas, temáticas e diálogos com um time seleto de colaboradores em estúdio.

E isso fica evidente logo nos primeiros minutos da obra, em Última Lágrima. Completa pela participação de Alcione, Dona Onete e Elza Soares, a canção funciona como uma síntese de tudo aquilo que a artista busca desenvolver ao longo do trabalho. Instantes em que Amarantos se despede do próprio passado (“É a última lágrima que vou chorar por você“) e aponta a direção para o que ainda está por vir. Não por acaso, Opará, faixa seguinte e bem-sucedido encontro com Luedji Luna, se revela em pequenas doses, com ares de recomeço. Um espaço aberto à criação, estrutura que vai das guitarras de Lucas Estrela à produção de Jaloo, parceiro durante toda a execução do álbum e dono de parte das vozes na derradeira Tchau.

A partir desse ponto, Purakê, nome inspirado pelo peixe elétrico da Amazônia, engata em uma sequência de grandes acertos. Primeiro, o brega de Amor Fake, música que discute relacionamentos em tempos de redes sociais (“Quando eu te conheci lá naquele app / Pensava que você seria meu amor“), e traz de volta a essência dramática de Treme. É como um preparativo para o material que chega minutos à frente, na grandiosa Sangrando, uma balada romântica em que Amarantos e a convidada, a cantora Potyguara Bardo, parecem testar os limites da própria voz. Um exercício criativo tão intenso, forte, que praticamente acaba engolindo a faixa seguinte, Embraza, canção que parece pensada para as apresentações ao vivo da artista.

Em Amor Pra Recordar, Amarantos muda o tom, confessa sentimentos, porém, tropeça em um registro que parece totalmente deslocado do restante da obra, como uma reciclagem de tudo aquilo que Liniker, parceira de faixa, tem produzido em carreira solo. Nada que Rio não dê conta de recuperar. Verdadeira celebração ao Norte do Brasil, a música de essência ritualística traz de volta a atmosfera de Mestiça e outras criações menos urgentes de Treme. É como um exercício de fechamento da primeira metade do disco, vide a mudança de direção em Vênus em Escorpião. Já conhecida, a parceria com Ney Matogrosso e Urias concentra o que há de melhor no trabalho da paraense, arrastando o ouvinte para as pistas.

Essa mesma força criativa acaba se refletindo na deliciosa Selfie, música que resgata a discussão iniciada em Amor Fake, porém, partindo de um novo direcionamento poético. “Se você vier comigo vai teclar / Com os dedos no meu corpo / Nuns buraco muito louco“, canta. São versos sempre provocativos, conceito que se reflete na música seguinte, Iniciação. Nada que se compare ao material entregue pela cantora na divertidíssima Rolha, composição em que parte do malicioso jogo de palavras para capturar a atenção do ouvinte. “Deixa o povo falar que tô louca / Viro gargalo na boca / Sou colecionadora de rolhas“, brinca.

Para o encerramento do disco, além da já citada Tchau, Purakê reserva a inédita Arreda. Completa pela participação de Viviane Batidão, um dos nomes mais expressivos da música paraense, e a icônica Leona Vingativa, a artista vai de encontro ao mesmo território criativo de Xirley, Ex Mai Love e outras canções deliciosamente acessíveis que apresentaram o som da cantora no início da década passada. É como se ao final da jornada iniciada em Última Lágrima, em que transita por entre momentos de maior vulnerabilidade e versos reflexivos, Amarantos garantisse ao público um momento de doce escapismo.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.