Image
Crítica

Gold Panda

: "The Work"

Ano: 2023

Selo: City Slang

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Four Tet e Caribou

Ouça: I’ve Felt Better (Than I Do Now) e The Corner

7.5
7.5

Gold Panda: “The Work”

Ano: 2023

Selo: City Slang

Gênero: Eletrônica

Para quem gosta de: Four Tet e Caribou

Ouça: I’ve Felt Better (Than I Do Now) e The Corner

/ Por: Cleber Facchi 16/01/2023

Seja de maneira involuntária ou de forma propositada, em decorrência de uma evolução técnica, Derwin Schlecker passou por um lento processo de transformação ao longo da última década. Se em início de carreira o produtor britânico parecia brincar com a fragmentação dos elementos, investido no uso de captações de campo e trechos extraídos de antigas fitas VHS, com os trabalhos seguintes, o artista que se apresenta como Gold Panda mergulhou na formação de um repertório cada vez mais sintético e límpido, mudança evidente entre o introdutório Lucky Shiner (2010) e o posterior Half Of Where You Live (2013).

Curioso perceber em The Work (2022, City Slang), quarto e mais recente álbum de inéditas de Gold Panda, um ponto de equilíbrio entre esses dois territórios criativos explorados pelo produtor. Sequência ao material entregue em Good Luck and Do Your Best (2016), além, claro, do paralelo Jag Trax (2019), primeiro álbum de Schlecker como DJ Jenifa, o registro chama a atenção pela versatilidade e equilíbrio do produtor durante toda a execução do material. Composições que vão do experimentalismo caseiro que marca os trabalhos iniciais ao refinamento estético e uso de temas dançantes que orienta a recente fase do artista.

Terceira faixa do disco, The Corner talvez seja a composição que melhor transporta para o presente a essência dos antigos trabalhos de Gold Panda. Em um intervalo de quase quatro minutos, tempo de duração da faixa, Schlecker se concentra na criativa costura de samples, fragmentos de vozes, bases e batidas empoeiradas que ora convidam o público a dançar, ora reforçam o lado contemplativo da obra. É como um regresso ao mesmo território criativo explorado pelo artista na coletânea Companion (2011), porém, partindo de um precioso senso de atualização que tinge com incerteza a experiência do ouvinte.

I’ve Felt Better (Than I Do Now), revelada minutos à frente, sintetiza de forma bastante característica tudo aquilo que o produtor tem incorporado desde Half Of Where You Live. Marcada pela fluidez das batidas, a canção destaca o que há de mais acessível no som produzido por Gold Panda. Instante em que o artista se distancia de possíveis excessos e arrasta o ouvinte para as pistas, lembrando a boa fase do Daft Punk. Mesmo quando desacelera momentaneamente, Schlecker preserva a completa clareza das bases, como uma resposta ao extremo oposto da obra, sempre pontuada por captações caseiras e ruídos ocasionais.

Entretanto, satisfatório perceber como essas duas propostas criativas se cruzam a todo instante. Em New Day, por exemplo, Schlecker desacelera para investir na construção de uma faixa que combina os temas empoeirados do passado com a precisão das batidas. A própria The Dream, logo nos minutos iniciais do trabalho, é outra que chama atenção pela versatilidade do artista. São incontáveis camadas instrumentais, batidas e melodias sintéticas que se entrelaçam de forma sempre inesperada, por vezes torta, proposta que faz lembrar de conterrâneos como Four Tet e outros nomes marcados pela colorida sobreposição de ideias.

Perfeita representação do que há de mais característico no som produzido por Gold Panda, The Work costura passado e presente de forma a transitar por diferentes fases da carreira do artista. Mesmo que o trabalho pareça limitado a um conceito bastante reducionista, livre de criações grandiosas e momentos de maior transformação, tudo é tratado de forma tão minuciosa que é difícil não se deixar conduzir pela experiência proposta por Schlecker. Do uso calculado das batidas, sempre fragmentadas, passando pela costura irregular das vozes e sintetizadores, cada mínimo detalhe contribui para o fortalecimento da obra.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.