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Ano: 2022

Selo: Text Records

Gênero: Eletrônica, Techno

Para quem gosta de: Four Tet e Floating Points

Ouça: Flame e Right To Riot

7.8
7.8

Hagop Tchaparian: “Bolts”

Ano: 2022

Selo: Text Records

Gênero: Eletrônica, Techno

Para quem gosta de: Four Tet e Floating Points

Ouça: Flame e Right To Riot

/ Por: Cleber Facchi 13/01/2023

Embora conhecido pelo trabalho como integrante do grupo britânico Symposium, com quem lançou dois álbuns de estúdio e algumas canções avulsas, Hagop Tchaparian passou as últimas duas décadas atuando nos bastidores da cena inglesa. O multi-instrumentista e produtor de origem armênia chegou até a trabalhar como produtor do Hot Chip, auxiliando a banda durante as turnês em início de carreira, o que resultou uma música com seu nome no elogiado The Warning (2006). Entretanto, foi a partir de conversas com o sempre prolífico Kieran Hebden, o Four Tet, que Tchaparian decidiu investir na própria criação.

O resultado desse processo está na entrega de Bolts (2022, Text Records), trabalho que chega pelo selo de Hebden, mas que destaca o domínio criativo e versatilidade de Tchaparian durante toda a execução do material. Inaugurado pela atmosférica Timelapse, o registro de dez faixas se revela aos poucos. São diálogos com a música produzida no leste europeu, mas que a todo momento se completam pela uso de bases sintéticas e batidas fragmentadas que tensionam a experiência do ouvinte, conceito reforçado na canção seguinte, GL, em que parte de uma formatação folclórica para mergulhar de cabeça nas pistas.

A partir desse ponto, Tchaparian deixa bastante claro que nada do que será apresentado em Bolts segue por vias convencionais. São canções que começam pequenas, por vezes discretas, mas que acabam transportando o ouvinte para um território completamente imprevisível. Com pouco menos de nove minutos de duração, Flame talvez seja a melhor representação desse resultado. Enquanto os momentos iniciais destacam o caráter atmosférico da obra, minutos à frente, o produtor destaca a potência das batidas e uso de temas ritualísticos que evidenciam a busca do artista pela construção da própria identidade.

E essa maior fluidez no processo de criação do material está longe de ser percebida apenas em pontos específicos da obra. Durante toda a execução do trabalho, Tchaparian se concentra no cruzamento de informações, uso de formas pouco usuais e retalhos que parecem extraídos de diferentes campos da música. Instantes em que o produtor parte de uma abordagem ritualística e regional para investir em um som grandioso, dialogando com os temas dançantes de conterrâneos como Floating Points e o próprio Four Tet. Exemplo disso acontece na crescente Right To Riot, canção que funciona como síntese criativa do disco.

Claro que essa ânsia em transitar por entre estilos, ritmos e referências não justifica a apresentação de diferentes faixas que se projetam de maneira incompleta, como esboços conceituais. É o caso de Jordan, música que parte de uma captação de campo rudimentar e abre espaço para a formação das batidas, mas que em nenhum momento vai além desse ponto. Observado atentamente, toda a porção final do registro partilha do mesmo direcionamento instável. São ideias e estruturas abstratas, incapazes de replicar a boa forma evidente nos minutos iniciais do trabalho, quando as batidas orientam a experiência do ouvinte.

Ainda assim, Bolts convence na maior parte do tempo. Difícil esbarrar em composições como Round e escapar da fluidez das batidas e delirante trama instrumental proposta pelo produtor. Mesmo músicas anteriormente reveladas ao público, como a já citada Right To Riot, ganham novo significado quando observadas como parte de uma obra que utiliza da sobreposição de ideias e diferentes andamentos rítmicos como principal marca. É como um precioso exercício criativo que não somente apresenta o trabalho do artista, como deixa em aberto o caminho para os futuros lançamentos de Tchaparian.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.