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Ano: 2022

Selo: Skint Records / BMG

Gênero: Art Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: ANOHNI e Zola Jesus

Ouça: Poisonous Storytelling e One

5.5
5.5

Hercules & Love Affair: “In Amber”

Ano: 2022

Selo: Skint Records / BMG

Gênero: Art Pop, Eletrônica

Para quem gosta de: ANOHNI e Zola Jesus

Ouça: Poisonous Storytelling e One

/ Por: Cleber Facchi 15/07/2022

Tão logo anunciou o lançamento de In Amber (2022, Skint Records / BMG) e restabeleceu a parceria com a cantora e compositora ANOHNI, o produtor Andrew Butler fez questão de reforçar que o quinto álbum de estúdio do Hercules & Love Affair seria bem diferente do cultuado registro de estreia que formalizou a colaboração entre os dois artistas. Longe dos temas dançantes e atmosfera revivalista que parecia resgatar elementos do repertório produzido na década de 1970, o artista norte-americano decidiu investir em um material orientado pelo uso de ambientações soturnas e composições densas, ancoradas nos anos 1980.

E isso ficou ainda mais evidente durante todo o processo de preparação para a chegada do trabalho. Primeiro, Butler deu vida à introdutória Grace, música alimentada pelas vozes do próprio artista e uma extensão natural do repertório entregue no disco anterior, Omnion (2017),obra que contou com a colaboração de artistas como Sharon Van Etten e Faris Badwan (The Horrors). Em seguida, foi a vez de Poisonous Storytelling, reencontro com ANOHNI após 15 anos e um indicativo claro de que o produtor parecia pouco interessado em seguir a trilha percorrida em composições como Blind e You Belong.

Entretanto, mais do que um propositado afastamento do fino repertório apresentado por Buttler no início da carreira, In Amber é uma fuga de tudo aquilo que caracteriza o som produzido pelo Hercules & Love Affair ao longo da última década. Salve óbvias exceções, como a dançante One, também assinada em parceria com ANOHNI, tudo gira em torno de um mesmo universo criativo. São canções marcadas pelo forte aspecto contemplativo dos temas e propositado distanciamento das pistas, estrutura que abre passagem para uma nova fase na carreira do projeto, porém, tende a consumir a experiência do ouvinte.

Como indicado em You’ve Won This War, terceira faixa do disco, Butler se concentra na montagem de um trabalho marcado pela ambientação densa e lento desvendar das informações. Do uso atmosférico das vozes, passando pelo tratamento dado aos sintetizadores e batidas, tudo segue em um ritmo próprio, lembrando as criações de veteranos como This Mortal Coil e Dead Can Dance. A própria escolha do artista em colaborar em estúdio com Peter Edward Clarke, o Budgie, ex-baterista do grupo londrino Siouxsie and the Banshees,contribui ainda mais para esse aspecto referencial que orienta as canções do registro.

O problema é que por parecer tão apegado ao passado, In Amber se apresenta ao público como uma obra que pouco ou nada acrescenta musicalmente quando comparada a diferentes registros marcados pelo mesmo direcionamento estético e previsível reciclagem de conceitos. Soma-se a isso o ritmo vagaroso, por vezes arrastado do material, o que torna tudo ainda menos interessante. Mesmo quando aporta em novos territórios criativos, como na provocativa Christian Prayers, o ouvinte é prontamente soterrado por uma sequência de outras faixas consumidas pela forte similaridade dos elementos e estruturas reeditadas.

Dessa forma, o que tinha tudo para se transformar em um novo e precioso capítulo na obra do Hercules & Love Affair, efeito direto do aguardado reencontro entre ANOHNI e Buttler, acaba se revelando como um registro tão decepcionante que invariavelmente tende ao esquecimento. Mesmo a relação do artista com outros parceiros, como islandesa Elin Eyþórsdóttir, em Dissociation, parece explorada de forma morna. O resultado desse processo está na entrega de um trabalho que não apenas sufoca pela própria proposta criativa, como mata o que há de melhor e mais característico na essência do próprio Hercules & Love Affair.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.