Ano: 2024
Selo: Brainfeeder / Ninja Tune
Gênero: Neo-Soul
Para quem gosta de: Thundercat e BADBADNOTGOOD
Ouça: Everything’s Beautiful e Cinnamon Temple
Ano: 2024
Selo: Brainfeeder / Ninja Tune
Gênero: Neo-Soul
Para quem gosta de: Thundercat e BADBADNOTGOOD
Ouça: Everything’s Beautiful e Cinnamon Temple
Quarto e mais recente trabalho de estúdio entregue pelos australianos do Hiatus Kaiyote, Love Heart Cheat Code (2024, Brainfeeder / Ninja Tune) é o típico exemplar de uma banda que sabe exatamente onde quer chegar. Da produção assinada pelo experiente Mario Caldato Jr. (Beastie Boys, Björk), destacando a relação do quarteto com a música brasileira, à escolha das temáticas que se aprofundam em questões emocionais, cada mínimo fragmento do registro evidencia o completo domínio criativo e precisão de seus realizadores.
Se por um lado essa abordagem garante ao público uma obra livre de qualquer traço de novidade, como uma extensão natural do antecessor Mood Valiant(2021), registro que contou com o maestro e arranjador brasileiro Arthur Verocai ocupando o lugar do atual produtor, por outro, percebemos uma banda alinhada e consciente de suas ações. Da construção dos arranjos às harmonias de vozes, tudo parece perfeitamente encaixado dentro de estúdio pelo grupo formado por Nai Palm, Paul Bender, Perrin Moss e Simon Mavin.
Escolhida como música de abertura, Dreamboat talvez seja o exemplo máximo disso. Enquanto os versos soam como um convite a embarcar na viagem proposta pelo grupo (“Aqui estou eu, barco dos sonhos / Leve-me para casa“), arranjos cuidadosamente elaborados ampliam os horizontes da canção. São pianos cristalinos, o tilintar da percussão e toda uma sobreposição de elementos que culmina em um fechamento apoteótico, como uma combinação do que há de melhor e mais característico na sonoridade do quarteto.
E ela está longe de ser a única. Em Make Friends, perceba como cada elemento parece trabalhado em uma medida própria de tempo, como um complemento aos versos que tratam sobre a força transformadora de uma amizade, soando com uma faixa perdida de Erykah Badu. Mesmo quando utiliza de uma abordagem reducionista, como na própria faixa-título do disco, chama a atenção a forma como o grupo calcula cada movimento, potencializando o esmero e refinamento estético consolidado em Choose Your Weapon (2015).
Embora fundamental para o desenvolvimento do trabalho, sobrevive justamente nos momentos em que o grupo mais se distancia desse resultado a passagem para algumas das melhores composições de Love Heart Cheat Code. É o caso de Cinnamon Temple, com suas guitarras ruidosas e tempos inexatos que destacam o experimentalismo jazzístico da banda. A própria Everything’s Beautiful, mesmo utilizando de uma abordagem tradicional, cria pequenas mudanças de percurso que rompem com os limites da obra.
Pena que esses momentos de maior ruptura são temporários e continuamente atravessados por faixas de menor impacto, como BMO is Beautiful, Longcat e demais composições que conduzem o material para o mesmo território confortavelmente moldado nos registros anteriores. São canções dotadas de uma beleza incontestável, como um indicativo claro da consolidação da própria estética e domínio técnico da banda australiana em mais de uma década de carreira, mas que parecem incapazes de emocionar o ouvinte.
Ouça também:
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.
Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.