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Crítica

Horse Lords

: "Comradely Objects"

Ano: 2022

Selo: RVNG Intl.

Gênero: Experimental, Math Rock, Jazz

Para quem gosta de: Battles e Black Midi

Ouça: Law of Movement e Mess Mend

7.8
7.8

Horse Lords: “Comradely Objects”

Ano: 2022

Selo: RVNG Intl.

Gênero: Experimental, Math Rock, Jazz

Para quem gosta de: Battles e Black Midi

Ouça: Law of Movement e Mess Mend

/ Por: Cleber Facchi 09/01/2023

Comradely Objects (2022, RVNG Intl.) é um disco que se revela ao público em pequenas doses, mas que captura a atenção do ouvinte logo em uma primeira audição. Mais recente trabalho de estúdio do Horse Lords, grupo de Baltimore formado por Andrew Bernstein (saxofone, percussão), Max Eilbacher (baixo), Owen Gardner (guitarras) e Sam Haberman (bateria), o registro chama a atenção pela capacidade do quarteto em transitar por entre estilos de forma sempre labiríntica, porém, preservando uma série de elementos, timbres e estruturas que invariavelmente servem para aproximar cada uma das composições.

Com Zero Degree Machine como canção de abertura, o grupo que já conta com mais de uma década de carreira, diz a que veio logo nos minutos iniciais. São estruturas cíclicas e jazzísticas, por vezes íntimas da obra de veteranos como Tortoise, porém, partindo de uma abordagem puramente matemática, com suas formas oblíquas e tempos pouco convencionais que parecem pensados para brincar com a interpretação do ouvinte. Instantes em que o quarteto utiliza de sobreposições, pequenos acréscimos e subtrações para garantir movimento ao trabalho, vide o uso torto dado ao saxofone de Bernstein e guitarras de Gardner.

Entretanto, o que parecia estabelecido logo nos minutos iniciais da álbum, vide o tratamento dado a Zero Degree Machine, assume novo e inusitado direcionamento com a criação seguinte, Mess Mend. Em um intervalo de mais de quatro minutos, tempo de duração da faixa, o grupo vai de um canto a outro sem necessariamente perder o controle da própria obra. Enquanto a base da canção utiliza de elementos que apontam para a sonoridade desértica do Mdou Moctar, sobrevive na percussão versátil traços de música brasileira, conceito que logo ganha novo tratamento no continuo desvendar de informações do quarteto.

Vinda logo em sequência, May Brigade preserva a completa versatilidade do Horse Lords, porém, talvez seja a composição que mais se aproxima dos antigos trabalhos da banda. Enquanto o baixo de Eilbacher se conecta à bateria de Haberman, servindo de base para a canção, Bernstein e Gardner brincam com o dissonante atravessamento de informações, quebras e momentos de maior improviso. É como se os dois instrumentistas testassem os próprios limites dentro de estúdio, conceito que acaba se refletindo até os minutos finais, quando o quarteto desacelera para investir em um som totalmente abstrato e amorfo.

Passado o breve respiro detalhado com a curtinha Solidarity Avenue, Law of Movement, abre passa o que há de mais delirante e complexo no som produzido pelo quarteto. São pouco mais de dez minutos em que o grupo parte de uma abordagem puramente experimental, vide os minutos iniciais da composição, para destacar o uso dos instrumentos e bases que vão de encontro ao mesmo território criativo de veteranos como Neu! e Can. O próprio uso dos guitarras e metais assume novo tratamento, estrutura que ainda serve de passagem para a faixa seguinte, Rundling, outro importante fragmento criativo de Comradely Objects.

E quando tudo parecia resolvido, Plain Hunt on Four, composição de encerramento do disco, transporta o som produzido pela banda para um novo território. Partindo de uma base minimalista, a faixa ganha forma e cresce em uma medida própria de tempo, como uma síntese conceitual de tudo aquilo que o grupo busca desenvolver ao longo da obra. São inserções sutis, talvez incapazes de replicar a mesma grandiosidade explícita em outras criações apresentadas ao longo do trabalho, porém, fundamenteis para destacar o papel de cada instrumentista e o evidente entrosamento do grupo durante toda a execução do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.