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Crítica

Ibeyi

: "Spell 31"

Ano: 2022

Selo: XL

Gênero: R&B, Soul, Art Pop

Para quem gosta de: Kelsey Lu e Moses Sumney

Ouça: Made of Gold e Sister 2 Sister

7.0
7.0

Ibeyi: “Spell 31”

Ano: 2022

Selo: XL

Gênero: R&B, Soul, Art Pop

Para quem gosta de: Kelsey Lu e Moses Sumney

Ouça: Made of Gold e Sister 2 Sister

/ Por: Cleber Facchi 14/06/2022

Se em início de carreira as irmãs Lisa-Kaindé e Naomi Diaz pareciam investir em um repertório marcado pelo reducionismo dos elementos, base do autointitulado disco de estreia da dupla franco-cubana, com a chegada de Ash (2017), segundo álbum de estúdio do Ibeyi, o som proposto pelas duas irmãs ganhou novas tonalidades. Acompanhadas pelo produtor britânico Richard Russell (Gil Scott-Heron, Bobby Womack), o duo não apenas provou de novas sonoridades, como estreitou a relação com um time seleto de parceiros, entre eles, o saxofonista estadunidense Kamasi Washington e a cantora espanhola Mala Rodríguez.

Cinco anos após o último registro de inéditas, interessante perceber em Spell 31 (2022, XL), terceiro e mais recente trabalho de estúdio do Ibeyi, uma natural continuação do álbum que o antecede. Mais uma vez acompanhadas de Russell, as duas artistas transitam por entre estilos, ritmos e referências criativas, ampliando o próprio campo de atuação. São canções que tratam sobre ancestralidade, herança cultural, perda e misticismo, conceito que dialoga de forma bastante sensível com o próprio título do material, inspirado por um dos feitiços do Livro dos Mortos do Antigo Egito, do egiptólogo E. A. Wallis Budge.

Matéria e espírito / Nosso profeta / O mar aberto está me chamando“, cresce a letra de Sangoma, música de essência mística que inaugura o disco e uma delicada representação de tudo aquilo que as irmãs Diaz buscam desenvolver até o fechamento da obra, em Los Muertos. São fragmentos poéticos ora cantados em inglês, ora cantados em espanhol, reforçando a pluralidade de ideias que orienta as criações do Ibeyi desde o primeiro trabalho de estúdio. Instantes em que somos transportados para diferentes territórios criativos, como uma tentativa clara das duas artistas em tensionar os próprios limites dentro de estúdio.

Partindo dessa criativa combinação de elementos, a dupla franco-cubana mais uma vez se aproxima de novos colaboradores. É o caso do rapper Pa Saleu, com quem dividem a já conhecida Made of Gold, composição que estreita a relação das duas artistas com a música pop, porém, em um sentido não convencional, proposta que vai da construção das rimas ao tratamento dado aos arranjos. O mesmo resultado acaba se refletindo em Lavender and Red Roses, faixa que parte de uma base reducionista para destacar as vozes que agora se completam pela presença da cantora e compositora britânica Jorja Smith.

Esse mesmo refinamento fica ainda mais explícito nas canções assumidas integralmente pelas duas artistas. É o caso de Sister 2 Sister, música que parte de uma celebração à irmandade e relação entre as irmãs Diaz, porém cresce para além dos temas e experiências particulares compartilhadas pela dupla. A própria Creature (Perfect), com seus versos bilíngues e orquestrações minuciosas evidenciam o esmero durante todo o processo de criação do material. É como a passagem para um universo próprio do Ibeyi, como um acumulo natural de tudo aquilo que tem sido produzido desde a entrega do primeiro trabalho de estúdio.

Embora encante pelo esmero dado ao processo de criação e escolha dos temas que ampliam os horizontes da dupla franco-cubana, prevalece em Spell 31 a sensação de uma obra ainda incompleta. Das dez composições que abastecem o trabalho, pelo menos três são interlúdios. Já outras, como Rise Above, parceria com o rapper Berwyn, utilizam de elementos melhor incorporados em outras canções reveladas previamente pelas duas artistas no bloco inicial do disco. Um álbum que convence e encanta em diversos momentos, mas que parece incapaz de igualar a mesma força expressa nos registros que o antecedem.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.