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Crítica

Clairo

: "Immunity"

Ano: 2019

Selo: Fader Label

Gênero: Indie Pop, Pop, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Cuco, Carly Rae Jepsen e Rostam

Ouça: Closer To You, Bags e I Wouldn’t Ask You

7.6
7.6

“Immunity”, Clairo

Ano: 2019

Selo: Fader Label

Gênero: Indie Pop, Pop, Bedroom Pop

Para quem gosta de: Cuco, Carly Rae Jepsen e Rostam

Ouça: Closer To You, Bags e I Wouldn’t Ask You

/ Por: Cleber Facchi 07/08/2019

Em um intervalo de poucos anos, Claire Cottrill foi de apenas mais uma personagem curiosa da internet, com suas produções caseiras e estética Tumblr, para um dos nomes mais interessantes do novo pop norte-americano. Prova disso está no evidente salto criativo que marca as primeiras criações da cantora e compositora estadunidense para o material entregue há poucos meses, em Diary 001 (2018). Fragmentos dotados de um evidente frescor, estrutura reforçada pelo minimalismo na formação dos arranjos e propositado distanciamento de fórmulas prontas, base para a delicada construção de músicas como 4Ever e Pretty Girl.

É partindo justamente desde mesmo conceito que Cottrill entrega ao público o primeiro álbum de estúdio como Clairo, Immunity (2019, Fader Label). De essência diminuta, o trabalho utiliza da leveza na composição dos arranjos e profunda simplicidade na construção dos versos como um elemento de imediato diálogo com o ouvinte. São poemas entristecidos, instantes de doce melancolia, reflexões típicas de qualquer jovem adulto e momentos de forte intimidade, estrutura que orienta a experiência do ouvinte até a faixa de encerramento do disco, I Wouldn’t Ask You. “Eu não pediria para cuidar de mim / Eu não pediria para ser quem eu amo“, canta enquanto reflete sobre o período em que esteve hospitalizada, aos cuidados do namorado.

Parte dessa leveza e profunda entrega emocional da cantora vem da forte interferência de Rostam Batmanglij como produtor do trabalho. Ex-integrante do Vampire Weekend, o cantor e compositor nova-iorquino parece despir Clairo de possíveis excessos, lembrando o bem-sucedido encontro do próprio artista com Carly Rae Japense, em Emotion (2015), uma das claras referências para a composição de Immunity. São faixas mergulhadas em sintetizadores tímidos, ruídos ocasionais e vozes carregadas de efeito, como a passagem para um universo onírico.

Perfeita representação desse resultado ecoa com naturalidade no R&B futurístico de Closer to You. Partindo de uma composição atmosférica, Rostam estabelece a base para a inserção de guitarras, batidas complementares e poesia agridoce de Cottrill. “As coisas que você faz / Só me fazem querer aproximar de você / E as coisas que você diz / Só me faz querer ficar“, confessa em um misto de dor e profunda entrega emocional, evidenciando o amadurecimento em relação ao material apresentado no antecessor Diary 001. Um exercício de profunda vulnerabilidade, estrutura que volta a se repetir em Feel Something, Alewife e demais composições de essência autobiográfica.

Dos poucos momentos em que perverte essa estrutura, como em Bags, música que se abre para a bateria de Danielle Haim, fica evidente o desejo de Cottrill em dialogar com outros campos da música. Do uso detalhado das guitarras, lembrando nomes como The Softies, Death Cab For Cuties e demais veteranos da década de 1990, cada fragmento da canção corrompe o pop atmosférico que orienta a experiência do ouvinte. O mesmo direcionamento acaba se refletindo em Sofia, composição que se espalha em meio a guitarras empoeiradas, porém, utilizando da produção eletrônica como um complemento aos versos.

Curioso e contido na mesma proporção, Immunity cumpre com naturalidade todas as funções de um registro de estreia. Trata-se de uma clara tentativa da cantora e seus parceiros de produção em testar os próprios limites dentro de estúdio, costurando sentimentos e versos de fácil identificação durante toda a montagem do trabalho. A principal diferença entre Clairo e outros nomes recentes da música pop, como Billie Eilish, King Princess e Troye Sivan, está na forma como a artista norte-americana parece lidar com menos, fazendo dessa propositada economia o principal componente criativo para o fortalecimento da obra.


Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.