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Crítica

Interpol

: "The Other Side of Make-Believe"

Ano: 2022

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Arcade Fire e Bloc Party

Ouça: Toni e Fables

7.3
7.3

Interpol: “The Other Side of Make-Believe”

Ano: 2022

Selo: Matador

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Arcade Fire e Bloc Party

Ouça: Toni e Fables

/ Por: Cleber Facchi 25/07/2022

The Other Side of Make-Believe (2022, Matador) concentra todos os ingredientes de um típico trabalho do Interpol. Das paisagens instrumentais que detalham o uso de ambientações soturnas, passando pela poesia melancólica de Paul Banks, sempre centrada em tormentos intimistas, medos e desilusões amorosas que atravessam acinzentados cenários urbanos, tudo soa como uma natural continuação do fino repertório que o cantor e compositor nova-iorquino, acompanhado pelos parceiros de banda, os músicos Sam Fogarino e Daniel Kessler, tem explorado desde a estreia com o irretocável Turn On the Bright Lights (2002).

Entretanto, para além da previsível direção criativa que há mais de duas décadas orienta as criações da banda estadunidense, o sucessor de Marauder (2018) garante ao público algumas surpresas. Concebido durante o período de isolamento social, o que proporcionou ao trio nova-iorquino maior tempo para a produção e finalização das faixas, o trabalho evidencia o esforço de cada integrante na formação de um repertório marcado pelo refinamento estético. São delicadas camadas instrumentais, harmonias de vozes e batidas cuidadosamente encaixadas, o que exige e estimula uma audição atenta por parte do ouvinte.

De fato, desde Our Love to Admire (2007) que o Interpol não apresentava ao público um registro tão interessante e bem-acabado. Escolhida como composição de abertura do trabalho, Toni funciona como uma perfeita representação de tudo aquilo que o grupo busca desenvolver ao longo da obra. Partindo de uma base de pianos e guitarras atmosféricas, cada componente da canção é revelado pela banda em pequenas doses, culminando em um fechamento grandioso, como se pensado para as apresentações ao vivo. E esse mesmo apuro no processo de criação se reflete durante toda a execução do material.

Exemplo disso fica bastante evidente em Something Changed. Também regida pelos pianos de Kessler, a faixa lentamente parece transportar o ouvinte para diferentes territórios criativos, como uma fuga da urgência que tem sido adotada pela banda desde o homônimo álbum de 2010. Mesmo a voz e poesia de Banks ganha novo tratamento ao longo da canção, como um reflexo do período melancólico em que vivemos. “Algo mudou, estamos atirando / Todos nós sofremos das mesmas crenças / Estamos no Sol, como nada“, detalha em meio a conflitos existenciais tão particulares quanto íntimos de qualquer indivíduo.

Embora marcado pelo forte aspecto contemplativo e minucioso processo de criação, The Other Side of Make-Believe em nenhum momento ecoa como um registro arrastado. Como contraponto a esses momentos de maior calmaria, Banks e seus parceiros de banda se concentram na formação de músicas deliciosamente enérgicas, porém, pontuadas pelo mesmo direcionamento minucioso. Das texturas de guitarras que crescem em Renegade Hearts, passando pela potência das batidas e harmonias de vozes de Gran Hotel, difícil não se deixar conduzir pelo precioso cruzamento de informações detalhado pelo trio.

Dotado de um refinamento raro, mesmo quando voltamos os ouvidos para os primeiros trabalhos do Interpol, The Other Side of Make-Believe se apresenta ao público como um registro equilibrado, produto de uma banda com mais de duas décadas de carreira. Embora carregue uma série de vícios e estruturas bastante características do grupo nova-iorquino, não são poucos os momentos em que Banks e seus parceiros assumem direções pouco usuais. Parte desse resultado vem da escolha em colaborar com o experiente Flood (PJ Harvey, Sigur Rós), além da maior interferência de Kessler e Fogarino no processo de composição e um esforço claro dos três integrantes em testar os próprios limites dentro de estúdio.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.