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Crítica

James Blake

: "Friends That Break Your Heart"

Ano: 2021

Selo: Republic / Polydor

Gênero: R&B, Soul, Eletrônica

Para quem gosta de: Sampha e Jamie XX

Ouça: Life Is Not The Same e Coming Back

7.6
7.6

James Blake: “Friends That Break Your Heart”

Ano: 2021

Selo: Republic / Polydor

Gênero: R&B, Soul, Eletrônica

Para quem gosta de: Sampha e Jamie XX

Ouça: Life Is Not The Same e Coming Back

/ Por: Cleber Facchi 19/10/2021

Há dois anos, quando deu vida ao romântico Assume Form (2019), James Blake decidiu romper com a melancolia explícita nos primeiros trabalhos de estúdio para investir em uma obra marcada pela celebração ao amor. Inspirado pelo relacionamento com a atriz Jameela Jamil, do seriado The Good Place, o cantor, compositor e produtor inglês fez de cada composição um precioso exercício de confissão e entrega sentimental. São músicas como I’ll Come Too e Power On em que preserva a essência dos antigos registros autorais, porém, estabelece na construção dos versos um evidente componente de mudança e entrega.

Mas e o que acontece quando esse mesmo artista é confrontado pelo distanciamento da mulher amada? A resposta para essa pergunta está nas canções de Friends That Break Your Heart (2021, Republic / Polydor). Quinto e mais recente trabalho de estúdio do produtor britânico, o registro parte do distanciamento de Blake e Jamil, divididos entre estúdios e filmagens, Londres e Los Angeles, para mergulhar em uma reflexão sobre a necessidade de seguir em frente, saudade e outros aspectos que pouco a pouco consomem o relacionamento de qualquer casal. Um doloroso e inevitável exercício de exposição poética e sentimental.

A vida não é a mesma / Se estivermos a milhas de distância“, confessa Blake na já conhecida Life Is Not The Same, música que sintetiza parte das experiências e temas sentimentais que serão explorados pelo músico inglês ao longo da obra. O mesmo resultado acaba se refletindo minutos à frente, em Funeral, composição que parte do desejo de mudança do compositor (“Eu vou sair da minha concha“), porém, sufoca pelas memórias de um passado ainda recente, fresco. “Eu serei o melhor que puder ser / Não desista de mim“, detalha em um misto de emoções que se conecta diretamente à base instrumental da canção.

Mesmo imerso nesse ambiente consumido pela dor, Blake se concentra na produção de faixas quase celebrativas, como uma extensão do material entregue no disco anterior. “Espero que esteja conectado, não estou no meu melhor / Mas eu coloquei meu melhor pé na frente“, canta em Foot Forward, música que rompe com o forte caráter monotemático do registro e transporta o ouvinte para um novo território. A própria base da canção reflete a capacidade do artista em brincar com as possibilidades dentro de estúdio, estrutura vai do tratamento dado aos teclados, ruídos sintéticos e vozes sempre carregadas de efeitos.

É como se Blake replicasse a atmosfera de clássicos românticos produzidos por nomes como Marvin Gaye e Stevie Wonder nos anos 1970, porém, partindo de uma abordagem sempre fragmentada dos elementos. E isso se reflete com naturalidade logo na introdutória Famous Last Words, música que alterna entre sintetizadores futurísticos e arranjos de cordas deliciosamente empoeirados. Esse mesmo direcionamento acaba se refletindo na colaborativa Show Me, parceria com Monica Martin, música em que transita por entre estilos de forma essencialmente versátil. Um misto de passado e presente, resgate e reinterpretação.

E isso se reflete durante toda a execução do trabalho. São canções como Say What You Will, em que testa os limites da própria voz, e a faixa-título, marcada pelo inusitado uso de elementos acústicos, em que Blake transita por entre estilos de forma sempre sensível. Mesmo as colaborativas Coming Back, bem-sucedido encontro com SZA, e Frozen, parceria com os rappers J.I.D e Swavay, evidenciam a capacidade do artista em colidir elementos dissonantes de forma sempre aprazível. Um ziguezaguear de ideias e experiências sentimentais que concentra o que há de melhor e mais delicado na obra do produtor britânico.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.