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Crítica

Jessica Pratt

: "Here In The Pitch"

Ano: 2024

Selo: Mexican Summer

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Angel Olsen e Weyes Blood

Ouça: Life Is, World on a String e The Last Year

8.8
8.8

Jessica Pratt: “Here In The Pitch”

Ano: 2024

Selo: Mexican Summer

Gênero: Folk

Para quem gosta de: Angel Olsen e Weyes Blood

Ouça: Life Is, World on a String e The Last Year

/ Por: Cleber Facchi 13/05/2024

Em Here In the Pitch (2024, Mexican Summer), tão importante quanto os arranjos e vozes trabalhados por Jessica Pratt, são os silêncios. Bolsões estrategicamente posicionados que acabam revelando os estalos dos instrumentos, criam pequenos respiros e concedem ao quarto álbum de estúdio da cantora e compositora norte-americana uma atmosfera única. Um espaço empoeirado que aponta para a década de 1960, como um olhar para o passado, porém, mantendo os dois pés firmes no presente e suas inquietações coletivas.

E ultimamente tenho estado insegura / As chances de uma vida inteira podem esconder seus truques na minha manga / Costumavam ser maiores, agora eu vejo“, detalha na introdutória Life Is, canção que destaca a sensibilidade poética e pequenas angústias que há mais de uma década embalam o trabalho da cantora. São composições talvez reducionistas em excesso, porém, dotadas de uma grandeza incomensurável, como uma acumulo natural dos tormentos, memórias e experiências dolorosas que atravessam a vida de Pratt.

Entretanto, diferente de outros exemplares do gênero, como o antecessor Quiet Signs (2019), Here In The Pitch não é necessariamente um trabalho sobre Pratt, mas sobre o espírito do tempo. A própria cantora diz ter se inspirado pelo fim da era hippie, no “lado sombrio do sonho californiano” e todas as movimentações políticas que marcam o fim da década de 1960 e início dos anos 1970. “Pegue seu casaco na parede, meu amor / Em breve saberei o que resta“, canta em Empires Never Know, indicando essa atmosfera decadente.

Vem justamente desse diálogo com o passado o estímulo para a fina tapeçaria instrumental que cobre o registro. Mais uma vez acompanhada pelo produtor Al Carlson, Pratt se aventura na construção de faixas que parecem resgatadas de um antigo disco de vinil. Canções que deixam de lado parte da relação com a obra de Joni Mitchell e Karen Dalton, duas das principais inspirações referências criativas da cantora, para mergulhar no mesmo pop psicodélico de Brian Wilson, como um precioso componente de transformação.

Não por acaso, a artista decidiu ampliar o time de colaboradores em estúdio, vide os teclados altamente nostálgicos de Matt McDermott, a percussão meticulosa do brasileiro Mauro Refosco e o baixo de Spencer Zahn. É como se Pratt fosse de encontro ao território criativo de Cindy Lee, no recente Diamond Jubilee (2024), ou mesmo Weyes Blood, em Titanic Rising (2019), porém, partindo de uma abordagem que, mesmo sem grandes inovações, se projeta de forma ainda mais sensível e reducionista, íntima do trabalho de Pratt.

Com base nessa estrutura, livre de possíveis excessos, Pratt vai da bossa nova, em By Hook or by Crook, ao pop de câmara, na delicadíssima World On A String, sem necessariamente perder a própria identidade. Do sempre característico uso das vozes, passando pela construção dos arranjos e versos que se estendem com delicadeza até o último segundo do trabalho, em The Last Year, tudo parece pensado de forma a exaltar a beleza e vulnerabilidade dos temas em uma abordagem tão particular quanto íntima do próprio ouvinte.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.