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Crítica

Jon Hopkins

: "Music for Psychedelic Therapy"

Ano: 2021

Selo: Domino

Gênero: Música Ambiente

Para quem gosta de: Tim Hecker, GAS e Fennesz

Ouça: Sit Around the Fire e Tayos Caves, Ecuador III

8.0
8.0

Jon Hopkins: “Music for Psychedelic Therapy”

Ano: 2021

Selo: Domino

Gênero: Música Ambiente

Para quem gosta de: Tim Hecker, GAS e Fennesz

Ouça: Sit Around the Fire e Tayos Caves, Ecuador III

/ Por: Cleber Facchi 07/01/2022

Muito antes de investir em um repertório marcado pelo forte aspecto dançante, direcionamento explícito nos bem-recebidos Immunity (2013) e Singularity (2018), Jon Hopkins fez do delicado uso de ambientações sintéticas a base para parte expressiva do próprio trabalho. E isso se reflete não apenas em toda a série de discos apresentados pelo produtor britânico no início dos anos 2000, como na produção esporádica de trilhas sonoras e outros registros em que atuou de forma colaborativa com nomes como Brian Eno. Nada que se compare ao material entregue no transcendental Music for Psychedelic Therapy (2021, Domino).

Mais recente criação do artista inglês, o extenso registro funciona como um regresso aos primeiros anos de Hopkins, porém, partindo de uma abordagem completamente distinta. Longe dos temas eletrônicos e entalhes sintéticos que abasteceram obras como Opalescent (2001) e Contact Note (2004), o músico se concentra na formação de um repertório marcado pelo caráter orgânico. São captações de campo, sons de animais e diferentes texturas que garantem maior profundidade ao material. É como a passagem para um cenário misterioso e mágico, direcionamento reforçado a cada nova composição entregue pelo produtor.

Parte desse efeito vem do próprio processo de concepção do material. Diferente dos antigos trabalhos, em que Hopkins parecia imerso no próprio estúdio, Music for Psychedelic Therapy nasce de uma viagem do produtor às cavernas Tayos, no Equador. O resultado desse processo está na entrega de um registro que “não é ambiente, clássico ou drone, mas tem elementos de todos os três”, como resume no próprio texto de apresentação do álbum. Trata-se de uma experiência. Composições que partem de uma abordagem pré-estabelecida pelo artista, mas que parecem feitas para serem desvendadas e reinterpretadas pelo ouvinte.

E isso fica bastante evidente na sequência composta por Tayos Caves, Ecuador I, II e III. Pouco menos de 20 minutos em que Hopkins parte de uma base puramente atmosférica e minimalista, mas que ganha novos contornos à medida que o produtor avança em estúdio. São cantos de pássaros, vozes submersas, ruídos e ambientações que se completam pelo uso de sintetizadores e incontáveis camadas instrumentais. Um lento, porém, sempre instigante desvendar de ideias, como um labirinto de sons e possibilidades que muda de direção a todo instante, conceito que acaba se refletindo durante toda a execução do trabalho.

Mesmo quando se distancia desse resultando, investindo no uso de ambientações eletrônicas que parecem apontar para os antigos trabalhos de estúdio, Hopkins em nenhum momento rompe com esse forte caráter transcendental que orienta a formação do registro. Exemplo disso acontece em Ascending, Dawn Sky. Faixa mais extensa do disco, a parceria com 7RAYS parece pensada para envolver o ouvinte em uma nuvem de sons cósmicos, reforçando a leveza do material. A própria música de abertura do álbum, Welcome, funciona como síntese conceitual de tudo aquilo que o produtor busca desenvolver ao longo da obra.

Entretanto, é justamente quando alcança um ponto de equilíbrio entre essas duas porções do registro que Hopkins evidencia algumas de suas melhores criações. É o caso de Sit Around The Fire. Escolhida para anunciar a chegada do disco, a canção parte das vozes do guru estadunidense Ram Dass (1931 – 2019), porém, cresce em meio a pianos, sobreposições e melodias essencialmente sublimes. O mesmo cruzamento de informações acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como em Deep in the Glowing Heart, faixa que vai do canto de pássaros ao uso de bases densas, como uma extensão do material entregue em Singularity. Composições que convidam o ouvinte a flutuar em um ambiente de formas inexatas, proposta que vai da enevoada imagem de capa a cada mínimo detalhe encaixado pelo produtor.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.