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Crítica

Jonathan Ferr

: "Liberdade"

Ano: 2023

Selo: Slap

Gênero: Jazz, Neo-Soul, R&B

Para quem gosta de: Luedji Luna e Xênia França

Ouça: Rio Nilo e Meu Sol

8.0
8.0

Jonathan Ferr: “Liberdade”

Ano: 2023

Selo: Slap

Gênero: Jazz, Neo-Soul, R&B

Para quem gosta de: Luedji Luna e Xênia França

Ouça: Rio Nilo e Meu Sol

/ Por: Cleber Facchi 01/02/2023

O uso da voz está longe de parecer uma surpresa para quem há tempos acompanha a obra de Jonathan Ferr. Muito embora conhecido pelo repertório instrumental, o compositor e pianista carioca encontrou na inserção ocasional das vozes um estímulo para o próprio trabalho, vide o canto etéreo de Mari Milani, em Trilogia do Amor (2019), ou o texto interpretado por Serjão Loroza, na potente Esperança, uma das principais faixas de Cura (2021). Ainda assim, difícil não se surpreender com a mudança de direção e busca por novas possibilidades que orienta o material entregue pelo músico em Liberdade (2022, Slap).

Partindo de elementos apresentados no disco anterior, Ferr utiliza de retalhos instrumentais, batidas e samples para estabelecer as bases do novo registro. Com essa estrutura levantada, Liberdade, como o próprio título aponta, transita por diferentes propostas criativas de forma sempre exploratória e curiosa. São canções que preservam a essência jazzística do artista fluminense, porém, pontuadas por diálogos ocasionais com a música pop, direcionamento que se completa pelo misto de canto e rima que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais, em O Amor Não Morrerá, com vozes assumidas pelo pianista.

Uma vez imerso nesse espaço marcado pelas possibilidades, cada composição se transforma em um objeto precioso nas mãos de Ferr e seus parceiros. Passada a introdução proposta em Correnteza, única criação instrumental do disco, é a voz da maranhense Kaê Guajajara que chama a atenção, dividindo os holofotes com os pianos que em nenhum momento perdem espaço dentro do álbum. É como um ensaio para que se revela de forma ainda mais interessante na música seguinte, Rio Nilo, encontro com a baiana Luedji Luna e a rapper paulista Stefanie que funciona como representação do que há de mais característico no registro.

São canções que transitam por entre estilos e usam da voz como um instrumento versátil, a ser moldado em estúdio por Ferr e seus colaboradores. Em We Never Change, com versos em inglês assumidos pela britânica Jesuton, elas surgem em primeiro plano, dialogando com as criações de Lianne La Havas, Jorja Smith e outros nomes importantes do gênero. Já em Lá Fora, conhecida parceria com os rappers Coruja Bc1 e Zudizilla, o canto se transforma em rima, reforçando o aspecto político da obra. Entretanto, é justamente quando essas duas direções criativas se encontram que Liberdade alcança melhor resultado e cresce.

Exemplo disso fica bastante evidente em Meu Sol, quarta composição do disco. Enquanto os integrantes do ÀVUÀ assumem o coro de vozes junto de Ferr, Rashid trabalha as rimas de forma a contribuir com o teor esperançoso da canção. Esse mesmo resultado, porém, partindo de uma proposta diferente, acaba se refletindo em Gota, bem sucedida parceria com Tássia Reis e Black Alquimista. Nada que prejudique a construção de faixas que utilizam de uma abordagem convencional, como em Mar Profundo, reencontro com os membros da Tuyo, com quem o pianista colaborou no álbum Chegamos Sozinhos Em Casa (2021).

Entre cruzamentos de informações, encontros e colaborações que celebram a dissonância e identidade criativa de seus realizadores, Ferr utiliza do trabalho como um espaço de experimentação. Mesmo que algumas das composições utilizem de pequenas repetições e estruturas consolidadas na primeira metade do trabalho, vide o esgotamento explícito em Preterida e na já citada O Amor Não Morrerá, é incontestável o refinamento dado aos arranjos e uso das vozes durante a execução do material. Um precioso exercício de criação que amplia de forma significativa tudo aquilo que o pianista havia testado no disco anterior.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.