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Crítica

Julia Holter

: "Something in the Room She Moves"

Ano: 2024

Selo: Domino

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Jenny Hval e Holly Herndon

Ouça: Spinning, Evening Mood e Sun Girl

8.5
8.5

Julia Holter: “Something in the Room She Moves”

Ano: 2024

Selo: Domino

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Jenny Hval e Holly Herndon

Ouça: Spinning, Evening Mood e Sun Girl

/ Por: Cleber Facchi 01/04/2024

Something In The Room She Moves (2024, Domino) não é uma obra de rápida interpretação ou para quem busca por respostas fáceis. E não poderia ser diferente. A própria Julia Holter levou mais de dois anos até organizar suas ideias que pareciam espalhadas em meio a uma série de transformações pessoais, como o nascimento da primeira filha durante a pandemia de Covid-19, a perda da voz em decorrência da mesma doença, o falecimento dos avós e a morte precoce de um sobrinho de 18 anos, a quem dedica o trabalho.

É como se Holter, mesmo dona de um vasto repertório que se acumula desde a segunda metade dos anos 2000, pela primeira vez tivesse que repensar a própria obra e a forma como se articula dentro de estúdio. Quinta faixa do álbum, Meyou talvez seja a composição mais representativa desse processo. Utilizando da voz como única ferramenta de trabalho, a artista cria um diálogo existencial em que se divide em duas. São harmonias de vozes que vão da calmaria ao caos, tensionando a experiência do ouvinte e rumos do disco.

Dentro desse cenário de formas inexatas e ideias em construção, com as gravações dos vocais ocorrendo simultaneamente ao processo de mixagem do álbum, cada composição parece avançar em uma medida particular de tempo. A própria música de abertura, Sun Girl, funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco menos de seis minutos em que retalhos percussivos, sopros e vozes tratadas como um instrumento se revelam ao público em pequenas doses, sem pressa, envolvendo o ouvinte lentamente.

Claro que esse forte aspecto contemplativo em nada prejudica a construção de composições marcadas pelo caráter emergencial dos elementos. Já conhecida do público, Spinning talvez seja a faixa que melhor representa isso. Enquanto os versos evidenciam um senso de curiosidade e magia que busca inspiração no filme Ponyo (2008), de Hayao Miyazaki, batidas sempre em primeiro plano, metais e arranjos de cordas encaixados com precisão trazem de volta o brilho pop explícito em Have You in My Wilderness (2015).

Observado de maneira atenta, a real beleza de Something in the Room She Moves reside justamente nessa capacidade de Holter em equilibrar canções de essência atmosférica e criações quase imediatas. Exemplo disso pode ser percebido na sequência formada por Ocean, com seus sintetizadores densos e a posterior Evening Mood, música que destaca o lado radiante do registro. São pequenos cruzamentos de informações e estruturas contrastantes que concedem ritmo às faixas e distanciam o trabalho de um resultado moroso.

Partindo dessa conceito, Holter soluciona o que talvez seja dos principais problemas do registro anterior, Aviary (2018), trabalho que, mesmo marcado pelo refinamento dos arranjos, pecava pelo direcionamento arrastado e volume excessivo de canções. Em Something in the Room She Moves, as músicas existem e se estendem pelo tempo que precisam durar, porém, tudo se resolve de forma dinâmica, como um aceno para o também equilibrado Loud City Sound (2013) e uma nova interpretação da artista sobre a própria criação.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.