Disco: “Loud City Song”, Julia Holter

/ Por: Cleber Facchi 15/08/2013

Julia Holter
Experimental/Ambient/Female Vocalists
http://juliashammasholter.com/

Julia Holter

Julia Holter passou os últimos três anos desenvolvendo o que parecia ser um cenário delimitado por sons, temas e referências musicais bastante específicas. Tendo na própria voz um princípio de transformação constante, a artista californiana fez dos álbuns Tragedy (2011) e Ekstasis (2012) uma ponte natural para o que parecia crescer como um cenário bucólico, tratado com extremo cuidado. Curioso perceber que é justamente esse mesmo panorama que a artista busca desconstruir em Loud City Song (2013, Domino), ato final da série de lançamentos acumuladas desde 2011 e a busca de Holter por um composto de sons agora urbanos.

Longe do campo instrumental que parecia crescer até o último ano, a compositora trilha agora um cenário obscuro, jazzístico em alguns instantes, como se a luz tímida da manhã que flui abertamente em Ekstasis fosse tomada de forma expressiva pela escuridão noturna. Da capa aos sons, do título aos versos, cada faixa encaixada no interior do trabalho atende a uma nova exigência. Antes flutuando por entre colinas e instrumentos etéreos dentro de um exercício de pura sutileza, Holter faz da busca pelo oposto uma extinção natural de qualquer forma redundante de sons.

Mesmo tendo em mãos um exemplar distinto em relação aos dois primeiros discos, não espere nada brusco da californiana. As vozes, arranjos e principalmente a forma como os sons são posicionados pelo trabalho ainda crescem em um exercício de forte aproximação. Adepta do uso de efeitos detalhistas e vocais tratados como instrumentos, Holter repete tudo o que acumulou no decorrer dos anos, apenas assumindo um novo enquadramento. Exemplo evidente está em Horns Surrounding Me, faixa que rompe com as ambientações seguras do trabalho passado para apostar em um resultado grandioso, quase cênico.

Quase inexistente até pouco tempo, a bateria assume um papel importante durante toda a obra. Bastam os efeitos jazzísticos de This Is a True Heart ou o pop segundo Holter em In The Green Wild para entender isso. Já os sintetizadores, velhos acompanhantes da artista, surgem agora como meros complementos ocasionais. O que antes era posicionado como princípio para cada faixa da artista, agora se revela em doses, um acréscimo para faixas como He’s Running Through My Eyes e City Appearing, provavelmente a composição do novo álbum que mais se aproxima desses dois extremos que marcam a carreira da artista.

Claro que algumas faixas permanecem íntimas de tudo o que Holter acumulou com suavidade anteriormente. É o caso de Hello Stranger, exemplar que poderia passar despercebido dentro do universo letárgico da cantora – ou mesmo pelo trabalho de outras como Julianna Barwick e Nite Jewel. Mesmo World, faixa de abertura do disco, ecoa de forma natural como alguma canção perdida de Tragedy, apenas limpa da mesma camada mística de sons que floresciam até pouco tempo.

Embora provando de diferentes tendências ao longo do álbum, Loud City Song mantém o mesmo esforço temático que acompanha a obra da norte-americana desde o primeiro disco. Cada faixa, por mais distinta e até irregular que ela seja, faz parte de um mesmo sentido musical. Como se dançasse pelas ruas de uma cidade grande no que parece representado como um musical particular, Julia Holter se divide entre instantes de esquizofrenia e libertação. Evidencia de que todas as pontas fechadas há menos de um ano foram novamente abertas, entregues ao reinvento.

 

Julia Holter

Loud City Song (2013, Domino)

Nota: 8.0
Para quem gosta de: Julianna Barwick, Grouper e Laurel Halo
Ouça: Horns Surrounding Me, Hello Stranger e Maxim’s II

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.