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Crítica

Julia Jacklin

: "Pre Pleasure"

Ano: 2022

Selo: Polyvinyl

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Lucy Dacus e Angel Olsen

Ouça: I Was Neon e Love, Try Not To Let Go

7.8
7.8

Julia Jacklin: “Pre Pleasure”

Ano: 2022

Selo: Polyvinyl

Gênero: Indie Rock

Para quem gosta de: Lucy Dacus e Angel Olsen

Ouça: I Was Neon e Love, Try Not To Let Go

/ Por: Cleber Facchi 01/09/2022

Pre Pleasure (2022, Polyvinyl), como muitos dos trabalhos revelados nos últimos meses, nasce como um produto do período pandêmico, porém, cresce para além dele. Isolada em um apartamento na cidade de Montreal, no Canadá, Julia Jacklin cobriu as paredes do ambiente com papel pardo, espalhando parte das letras que havia composto em meio a sessões solitárias junto a um teclado Roland. Pela primeira vez livre das guitarras, seu principal instrumento de criação, a cantora e compositora australiana viu nascer um repertório marcado pelo forte aspecto emocional, vulnerabilidade e permanente sensação de entrega.

O eco da minha cidade natal / As coisas que eu nunca disse / Consomem o espaço entre mim / E todos que eu deixei“, desaba em Love, Try Not To Let Go, logo nos minutos iniciais do trabalho. É como um delicado exercício de exposição sentimental. Instante em que Jacklin despeja parte das angústias vividas nos últimos anos, fazendo de cada mínimo fragmento poético um precioso componente de diálogo com o ouvinte e uma dolorosa imersão nos próprios traumas e inquietações. Criações que partem de cenas, recordações e acontecimentos ainda recentes, mas que a todo momento parecem dançar pelo tempo.

Composição de abertura do disco, Lydia Wears A Cross funciona como uma boa representação desse resultado. Enquanto a base da canção se revela ao público em pequenas doses, Jacklin se aprofunda em memórias da própria adolescência marcada pela forte repressão religiosa. “Eu seria uma crente / Se tudo fosse apenas música e dança / Eu seria uma crente / Se eu pensasse que tínhamos uma chance“, canta. O mesmo caráter reflexivo volta a se repetir minutos à frente, na derradeira ​End Of A Friendship, delicada criação que aponta para um passado distante da compositora, porém, dotado de um lirismo atemporal.

Embora pontuado por momentos de maior melancolia, Pre Pleasure está longe de parecer um registro monotemático. Da mesma forma que o material entregue no disco anterior, o maduro Crushing (2019), Jacklin se concentra na entrega de um repertório equilibrado e contrastante. Mesmo a base instrumental do disco se divide entre criações efusivas e faixas deliciosamente contidas. Exemplo disso fica bastante evidente na sequência composta por Ignore Tenderness e a já conhecida I Was Neon. Pouco mais de sete minutos em que a cantora parte de uma estrutura reducionista para mergulhar na montagem de uma composição marcada pela potência das vozes, batidas fortes e guitarras sempre carregadas de efeitos.

Por se tratar justamente de uma obra marcada pelo uso de pequenas divisões rítmicas e temáticas, fica bastante evidente perceber os momentos de maior instabilidade em Pre Pleasure. Passada a melancolia fina que se apodera de Too In Love To Die, música guiada em essência pelas vezes e sintetizadores da artista australiana, Jacklin se perder em uma sequência de faixas que diminuem fortemente o impacto do trabalho. São ambientações acústicas e versos que pouco avançam quando próximos do bloco inicial do disco, quando a cantora se revela por completo e faz de cada composição um verdadeiro acontecimento.

Entretanto, com Be Careful With Yourself e End Of A Friendship como composições de encerramento do disco, Jacklin e o produtor Marcus Paquin (The Weather Station, Arcade Fire) não apenas ajustam os rumos da obra, como garantem o fechamento ideal para o registro. Instantes em que a artista se expõe por completo e volta a estreitar relações com o ouvinte. É como o ponto final de uma longa jornada emocional que teve início há seis anos, durante o lançamento do primeiro trabalho de estúdio da cantora, Don’t Let the Kids Win (2016), passa pelo fino repertório apresentado no disco anterior, o já citado Crushing, e encontra nas canções do presente álbum um precioso exercício de consolidação, entrega e refinamento estético.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.