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Crítica

Julie Byrne

: "The Greater Wings"

Ano: 2023

Selo: Ghostly International

Gênero: Folk, Música Ambiente

Para quem gosta de: Jessica Pratt e Weyes Blood

Ouça: Summer Glass, Moonless e The Greater Wings

8.5
8.5

Julie Byrne: “The Greater Wings”

Ano: 2023

Selo: Ghostly International

Gênero: Folk, Música Ambiente

Para quem gosta de: Jessica Pratt e Weyes Blood

Ouça: Summer Glass, Moonless e The Greater Wings

/ Por: Cleber Facchi 14/07/2023

Quem se depara com a suavidade explícita nas canções The Greater Wings (2023, Ghostly International) dificilmente poderia acreditar que esse talvez tenha sido o exercício criativo mais turbulento já vivido por Julie Byrne. Com parte das sessões bastante avançadas logo após o lançamento de Not Even Happiness (2017), a cantora e compositora norte-americana se viu obrigada a suspender suas atividades quando, em meados de 2021, o produtor Eric Littmann, com quem vinha trabalhando desde 2018, veio a falecer. Foi somente no ano seguinte, agora em companhia de Alex Sommers, que a musicista pode concluir o registro.

Apesar de todos esses percalços, do processo de luto vivido pela artista e da mudança de produtores, The Greater Wings se apresenta como o trabalho mais completo e complexo já produzido por Byrne. Assim como no registro entregue há seis anos, a musicista continua a se aventurar na construção de uma obra marcada pelo uso de ambientações acústicas e vozes instrumentais que assentam com suavidade. É como uma nuvem de sons e sensações que se abre de forma a revelar um ambiente de emanações matutinas e versos sempre confessionais, como o ponto final de uma longa jornada sentimental, poética e pessoal.

Espero nunca chegar aqui / Sem nada de novo para te mostrar“, confessa logo nos minutos iniciais, na autointitulada composição de abertura. São fragmentos poéticos que traduzem parte das experiências vividas pela artista ao longo da última meia década, mas que em nenhum momento parecem sufocadas pelo próprio passado, apontando o caminho em direção ao futuro. “Fui eu quem voltou e arrastou para o futuro / Eu que dirigi pela estrada e gritei o céu noturno“, canta minutos à frente, em Lightning Comes Up From the Ground, música que reforça essa sensação de movimento e constante avanço dentro do trabalho.

Embora marcado pela fluidez poética da artista, The Greater Wings talvez seja o trabalho em que Byrne mais parece se debruçar sobre as composições, detalhando incontáveis camadas instrumentais, vozes e melodias. São músicas essencialmente concisas, porém, marcadas pelo minucioso processe de criação que pode ser percebido do início ao fim do material. Em Moonless, por exemplo, pianos entristecidos se completam pelo uso de arranjos de cordas e a harpa de Marilu Donovan, instrumentista presente em diversos outros momentos do registro, como na também sofisticada Portrait of a Clear Day e Summer’s End.

Claro que isso está longe de parecer uma surpresa para quem acompanha o trabalho de Byrne desde o introdutório Rooms with Walls and Windows (2014). Sempre cuidadosa em suas criações, a artista traz de volta o mesmo polimento aprimorado no registro anterior, porém, estabelece no uso destacado dos sintetizadores um necessário componente de transformação. Exemplo disso fica bem representado em Summer Glass, composição que vai de encontro ao mesmo território criativo explorado por Weyes Blood em And In The Darkness, Hearts Aglow (2022), porém, de forma ainda mais sensível e contemplativa.

Vem justamente dessa busca pela criação de faixas marcadas pelo caráter atmosférico o que talvez seja uma das principais característica de The Greater Wings. Acompanhada por nomes como Jefre Cantu-Ledesma e Trayer Tryon, conhecidos pela relação com a música ambiente, a cantora se permite dialogar com o estilo, porém, rompe com qualquer traço de morosidade e reducionismo excessivo em favor de um repertório cintilante. São pinceladas instrumentais e poéticas que partem de uma base econômica, mas que acabam revelando um universo de pequenos detalhes poucas vezes antes visto na obra de Byrne.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.