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Crítica

Weyes Blood

: "And in the Darkness, Hearts Aglow"

Ano: 2022

Selo: Sub Pop

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julia Holter e Perfume Genius

Ouça: God Turn Me Into a Flower e Grapevine

8.8
8.8

Weyes Blood: “And In The Darkness, Hearts Aglow”

Ano: 2022

Selo: Sub Pop

Gênero: Art Pop

Para quem gosta de: Julia Holter e Perfume Genius

Ouça: God Turn Me Into a Flower e Grapevine

/ Por: Cleber Facchi 24/11/2022

Com os versos lançados logo nos minutos iniciais de And in the Darkness, Hearts Aglow (2022, Sub Pop), Natalie Mering não apenas introduz o público ao melancólico território criativo explorado no mais recente trabalho como Weyes Blood, como estabelece um precioso senso de cumplicidade e diálogo com o ouvinte. “Não sou só eu, é todo mundo“, reflete. Segundo capítulo da trilogia iniciada com Titanic Rising (2019), o álbum marcado pela vulnerabilidade das canções é, como qualquer obra posicionada no meio de um conteúdo seriado, um material consumido pela herança do registro que o antecede e a expectativa do que ainda está por vir. E é nesse cenário de incertezas que Mering faz nascer um de suas maiores criações.

Embora produzido e fortemente inspirado pelo período pandêmico, And In The Darkness, Hearts Aglow é um trabalho que parece sobreviver para além de um momento historiográfico específico. Trata-se de uma obra marcada pelo sentimento de estagnação. Composições que flutuam em um ambiente sombrio, por vezes livres de qualquer traço de perspectiva, porém, iluminadas pela esperança internalizada que pouco a pouco invade a construção dos versos. “Não sabemos para onde vamos / Apenas ficamos cada vez mais altos / Corações brilhando“, canta em Hearts Aglow, música que sintetiza parte dessa direcionamento.

Uma vez imersa nesse cenário marcado pelas incertezas, Mering se aprofunda na construção de faixas em que trata de diferentes traumas emocionais, medos e momentos de maior angústia. “Você vê o reflexo e o quer mais do que a verdade / Você anseia por ser aquele sonho que nunca poderia alcançar / Porque a pessoa do outro lado sempre foi você“, detalha na devastadora God Turn Me Into A Flower, música em que parte do mito de Narciso para refletir sobre a própria identidade. É como um acumulo natural dos anseios e pequenas inquietações compartilhadas por diferentes indivíduos durante o período de isolamento social.

Mesmo quando se aprofunda na construção de faixas marcadas pelo romantismo dos versos, Mering preserva o lirismo inquietante e fino toque de melancolia que parece bastante evidente durante toda a execução do material. “Ele sempre acredita / Que está sempre certo … E isso me atinge pela primeira vez / Agora somos apenas dois carros passando“, canta em Grapevine, música que se espalha em meio a vozes flutuantes, por vezes íntimas da obra do Cocteau Twins, porém, consumidas por uma densidade emocional que parece pertencer somente à artista californiana. Um misto de dor e permanente senso de libertação.

Partindo dessas oscilações poéticas, Mering e o principal parceiro de produção, o multi-instrumentista Jonathan Rado (The Killers, Father John Misty), se concentram na entrega de um repertório que encolhe e cresce a todo instante. São arranjos de cordas que naturalmente apontam para a obra de Brian Wilson, porém, pontuados pelo uso de sintetizadores cósmicos que ampliam os limites do álbum. Exemplo disso acontece em God Turn Me Into A Flower, composição que avança em uma medida própria de tempo e converge em uma nebulosa de sons, sensações, texturas eletrônicas e cantos de pássaros. Nada que prejudique a construção de faixas ainda íntimas da psicodelia acústica incorporada por Weyes Blood em trabalhos como Front Row Seat to Earth (2016), vide o envelopamento utilizado em The Worst Is Done.

Entre pequenas similaridades com o material entregue nos registros anteriores e canções que aportam em novos territórios criativos, Mering garante ao público um repertório envolvente e provocativo na mesma proporção. Ainda que muitas das composições partilhem de conceitos e estruturas testadas em Titanic Rising, proposta justificada em se tratando do segundo volume de uma trilogia, prevalece na construção dos versos um componente de transformação. São fragmentos poéticos que parecem arrancados do peito da artista e trabalhados em uma abordagem tão grandiosa, quanto reducionista e íntima de qualquer ouvinte. Um delicado exercício de exposição emocional que sobrevive por conta própria, mas que abre passagem e faz aumentar a expectativa para o último capítulo da jornada sentimental de Weyes Blood.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.