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Críticas

Father John Misty

: "God's Favorite Customer"

Ano: 2018

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Fleet Foxes

Ouça: Mr. Tillman e God's Favorite Customer

8.5
8.5

Resenha: “God’s Favorite Customer”, Father John Misty

Ano: 2018

Selo: Sub Pop

Gênero: Indie, Folk Rock

Para quem gosta de: Sharon Van Etten e Fleet Foxes

Ouça: Mr. Tillman e God's Favorite Customer

/ Por: Cleber Facchi 07/06/2018

Depois de um longo período de espera, Alex Turner e os parceiros de banda do Arctic Monkeys voltaram com o conceitual Tranquility Base Hotel & Casino (2018). Primeiro registro de inéditas do quarteto britânico em um intervalo de cinco anos, o álbum utiliza de um cenário fictício — um hotel futurístico localizado no Mar da Tranquilidade, onde, em 1969, pousou o módulo lunar da Apollo 11 —, para discutir temas como o descontentamento com a fama, a necessidade em evoluir criativamente e o melancólico isolamento de qualquer indivíduo.

Interessante perceber nas canções de God’s Favorite Customer (2018, Sub Pop), quarto e mais recente álbum de Josh Tillman como Father John Misty, uma obra que claramente se apoia nos mesmos temas e reflexões intimistas, porém, se esquiva da poesia morosa de Turner. Dois registros conceitualmente próximos, porém, trabalhados de formas completamente diferentes, afinal, enquanto Turner busca dar significado a versos ocos, ocultando informações de forma enigmática, Tillman revela muito mesmo na simplicidade das letras. Versos angustiados que se projetam em um cenário real — o Bowery Hotel, em Nova York, onde o músico passou grande parte de 2017 isolado. Mesmo a base instrumental do disco, delicada, partilha da mesma essência nostálgica do grupo inglês. São melodias polidas e temas orquestrais que refletem a sofisticação de Harry Nilsson, Randy Newman e Scott Walker em diferentes clássicos espalhados pela década de 1970.

Conciso quando próximo do material apresentado há poucos meses em Pure Comedy (2017), God’s Favorite Customer resume logo nos primeiros segundos do trabalho parte expressiva canto entristecido que serve de alicerce para o álbum. “O Sol está surgindo / O preto está ficando azul / Cuidado, amigo, Noé está vindo / Jesus, cara, o que você fez?“, brinca Tillman em um minucioso jogo de palavras. Versos em que reflete sobre o peso da depressão, porém, criticando indivíduos que buscam na religião uma resposta para os próprios conflitos.

A mesma angústia ecoa na descritiva Mr. Tillman, composição que mostra o ponto de vista do concierge do hotel onde o músico está hospedado e, ao mesmo tempo, uma passagem para as experiências particulares e mente confusa do próprio artista. “Estou me sentindo bem, droga, estou me sentindo tão bem / Eu estou vivendo em uma nuvem acima de uma ilha em minha mente“, canta, emulando um falso sorriso, melancolia que se reflete até o último verso da derradeira We’re Only People (And There’s Not Much Anyone Can Do About That).

Ora sarcástico, ora profundamente sóbrio, Tillman passeia por entre canções em que discute temas como suicídio (Please Don’t Die), confissões românticas à esposa Emma Elizabeth Tillman (Disappointing Diamonds Are the Rarest of Them All e Just Dumb Enough to Try), além de músicas em que se afunda nos próprios conflitos, principalmente os religiosos, conceito exaltado na própria faixa-título do disco. Um exercício doloroso e particular, mas que a todo momento se estende até o ouvinte, cuidado que se reflete desde a obra-prima do cantor, I Love You, Honeybear (2015).

Embora autobiográfico e contemplativo, curioso perceber em God’s Favorite Customer um trabalho marcado pela forte interferência externa, como um registro aberto ao encontro de diferentes vozes, compositores e instrumentistas. São nomes destacados, como o co-produtor e parceiro Jonathan Rado (Foxygen), a breve passagem de Bobby Krlic (The Haxan Cloak) e Mark Ronson, além, claro, do canto doce de Natalie Mering (Weyes Blood). Personagens convidados a ampliar as angústias detalhadas por Tillman, como frações de uma mesma mente atormentada.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.