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Críticas

Arctic Monkeys

: "Tranquility Base Hotel & Casino"

Ano: 2018

Selo: Domino

Gênero: Rock, Soft Rock, Lounge Pop

Para quem gosta de: The Last Shadow Puppets

Ouça: Four Out of Five e Star Treatment

6.5
6.5

Resenha: “Tranquility Base Hotel & Casino”, Arctic Monkeys

Ano: 2018

Selo: Domino

Gênero: Rock, Soft Rock, Lounge Pop

Para quem gosta de: The Last Shadow Puppets

Ouça: Four Out of Five e Star Treatment

/ Por: Cleber Facchi 15/05/2018

Imagine que a humanidade alcançou um grau de sofisticação tão elevado que a vida na Terra deixa de ser interessante e as pessoas passam a visitar a Lua, ocupando o Mar da Tranquilidade, onde, em 1969, pousou o módulo lunar da Apollo 11. Nesse ambiente restrito, grandes corporações são responsáveis por um lento processo de gentrificação e repovoamento elitista. Um emular de experiências humanas onde a vida ganha forma dentro de instalações luxuosas, como hotéis, cassinos e estádios de futebol em que as partidas acontecem por meio de realidade virtual.

É dentro desse cenário fictício e claramente metafórico que Alex Turner ambienta as canções do sexto álbum de inéditas do Arctic Monkeys, Tranquility Base Hotel & Casino (2018, Domino). Produto do claro descontentamento do músico britânico em relação ao sucesso alcançado após o lançamento de AM (2013), além, claro, da recente mudança para a cidade de Los Angeles, o registro de 11 faixas e ritmo lento faz de cada composição um fragmento particular da estranha narrativa detalhada por Turner.

Eu só queria ser um dos Strokes / Olhe agora para a bagunça que você me fez fazer“, canta logo nos primeiros segundos do disco, em Star Treatment, música em que externaliza uma série de conflitos internos, fala sobre o desconforto com a fama, a necessidade de se reinventar dentro de estúdio e, principalmente, o profundo descontentamento com o próprio trabalho.

Um vívido retrato da crise criativa e declarado complexo de artista que acompanha o cantor durante toda a execução da obra. Versos que flutuam entre a ironia fina e o leve desespero de seu realizador, tocando vez ou outra em temas políticos (One Point Perspective), a robotização dos indivíduos (The World’s First Ever Monster Truck Front Flip), e críticas ao crescente domínio das redes sociais (Tranquility Base Hotel & Casino).

A principal diferença entre TBH&C e tantos outros projetos orientados pela mesma temática, vide Time Out of Mind (1997), de Bob Dylan, está no forte aspecto pessoal que rege a construção dos versos. São poemas enigmáticos, indecifráveis, como se Turner utilizasse de uma linguagem própria, reconstruindo cenas, pensamentos e acontecimentos reais (ou fantásticos) dentro da própria cabeça.

Exemplo disso está em Four Out of Five, música em que discute a frustração com as avaliações da crítica, a pressão dos fãs e o medo em alcançar o fim da carreira de forma quase inteligível, fugindo do tom linear que vem sendo explorado desde a estreia com Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not (2006). Mesmo em entrevistas, Turner parece incerto quanto ao significado dos versos, reduzindo e, ao mesmo tempo, ampliando o tema central da obra sem qualquer traço de firmeza.

Tamanho hermetismo torna a audição do trabalho pouco estimulante — e não importa se você é um fã antigo ou recente da banda. É como se o público fosse forçado a ouvir o álbum acompanhado de um material complementar, como uma nota do editor ou apêndice literário que simplesmente não existe. Muito esforço para pouca recompensa.

Mesmo a estrutura melódica do disco, ancorada na obra de Serge Gainsbourg, Leonard Cohen, David Bowie, Jarvis Cocker e demais veteranos da década de 1970, parece dar voltas em torno de uma mesma base criativa. Um material claramente detalhista, vide as camadas que se escondem entre as brechas de Star Treatment, mas que pouco evolui. São raros os momentos em que o disco se transforma e cresce, como na psicodelia que invade os instantes finais de Four Out of Five ou no som labiríntico que toma conta de American Sports.

Parte desse aspecto “inacessível” e claro distanciamento dos demais integrantes da banda vem do próprio método concepção do trabalho. Desde o início, TBH&C não foi pensado como o sexto álbum do Arctic Monkeys, mas um novo disco solo de Turner. “Eu me dediquei a escrever — sentando-me ao piano, e fazendo algo que nunca fiz antes. Isso me deu permissão de ir a um lugar onde eu tinha dificuldade de chegar. Permitiu que eu pudesse apresentar como me sinto“, disse em entrevista à MOJO.

Dentro desse contexto, TBH&C agrada justamente por distanciar público e banda da mesma base criativa que vem sendo explorado pelo Arctic Monkeys desde Humbug (2009), porém, cresce como uma obra incompleta, por vezes vazia. Sobram lacunas, dúvidas e longos espaçamentos poéticos/instrumentais, como se Turner simplesmente entregasse ao ouvinte as peças de um quebra-cabeça que parece desvendado apenas por ele.

 

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.