Image
Crítica

Kaitlyn Aurelia Smith

: "Let’s Turn It Into Sound"

Ano: 2022

Selo: Ghostly International

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Laurel Halo e Julianna Barwick

Ouça: Is it Me Or Is It You? e Unbraid: The Merge

7.4
7.4

Kaitlyn Aurelia Smith: “Let’s Turn It Into Sound”

Ano: 2022

Selo: Ghostly International

Gênero: Experimental, Eletrônica

Para quem gosta de: Laurel Halo e Julianna Barwick

Ouça: Is it Me Or Is It You? e Unbraid: The Merge

/ Por: Cleber Facchi 08/09/2022

No início da década passada, quando deu vida aos primeiros registros de inéditas, Kaitlyn Aurelia Smith parecia transportar para dentro das próprias criações parte das experiências vividas na região litorânea de Orcas Island, ao noroeste do estado de Washington. Isolada, a compositora se concentrou na produção de músicas marcadas pelo forte caráter atmosférico e economia dos elementos. O próprio contato com Suzanne Ciani, no colaborativo Sunergy (2016), serviu de reforço a esse mesmo direcionamento estético, estrutura que aos poucos foi dissolvida pela musicista na sequência de obras entregues posteriormente.

Mais recente trabalho de Smith em carreira solo, Let’s Turn It Into Sound (2022, Ghostly International) é um bom exemplo disso. Mesmo que a compositora norte-americana continue a utilizar de ambientações sintéticas e momentos de maior contemplação, prevalece na fragmentação dos elementos e busca por novas direções criativas um natural estímulo para o fortalecimento do registro. É como uma extensão do material entregue nos antecessores The Kid (2017) e The Mosaic of Transformation (2020), porém, partindo de uma abordagem completamente imprevisível. Composições que mudam de direção a todo instante.

A própria escolha da artista em inaugurar o trabalho com a já conhecida Have You Felt Lately? funciona como uma boa representação desse resultado. São pouco menos de quatro minutos em que Smith vai de um canto a outro de forma completamente imprevisível, torta, tensionando a experiência do ouvinte. Do uso quase caricatural dos sintetizadores, como se saídos de uma animação, passando pelas vozes duplicadas e efeitos, não são poucos os momentos em que a musicista parece interessada em testar os próprios limites em estúdio, como uma fuga do pop atmosférico detalhado em obras como Ears (2016).

Primeira composição do álbum a ser revelada ao público, Is it Me Or Is It You? torna esse resultado ainda mais evidente. Concebida a partir da recortes instrumentais e rítmicos, a canção vai de um canto a outro em uma inusitada combinação de elementos. São ecos de Aphex Twin e Oneohtrix Point Never, porém, partindo de uma abordagem que parece íntima dos últimos lançamentos de Smith. A própria artista definiu o disco como um “quebra-cabeças” no texto de apresentação do material, indicando a tentativa em formar imagens sonoras a partir do encaixe de elementos que apontam para diferentes campos da música.

Mesmo quando utiliza de uma abordagem parcialmente contida, ainda íntima dos antigos trabalhos, Smith invariavelmente tende ao experimentalismo. Exemplo disso fica bastante evidente em Unbraid: The Merge. Enquanto a porção inicial da faixa encanta pela completa sutileza e minucioso encaixe de cada elemento, o bloco seguinte utiliza de uma abordagem totalmente distinta, por vezes urgente. São esses pequenos contrastes, quebras e sobreposições que tornam a experiência de ouvir o registro tão interessante. É difícil prever cada novo movimento de Smith, sempre inclinada ao permanente cruzamento de informações.

Embora instigante, não há como ignorar que muitos dos conceitos incorporados em Let’s Turn It Into Sound parecem inacabados e, em parte expressiva das vezes, consumidos pela forte aleatoriedade dos elementos. São canções que transitam por entre estilos de maneira tão fluida que é difícil estabelecer qualquer tipo de relação com a obra. Entretanto, como tudo aquilo que Smith tem produzido desde os primeiros trabalhos de inéditas, sobrevive justamente nessa imprevisibilidade um natural componente de fortalecimento para registro. Composições que vão de um canto a outro de forma a brincar com a interpretação do ouvinte.

Ouça também:

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.