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Crítica

Kate NV

: "Wow"

Ano: 2023

Selo: RVNG Intl.

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Kaitlyn Aurelia Smith e Jenny Hval

Ouça: Confessions At the Dinner Table e Meow Chat

7.5
7.5

Kate NV: “Wow”

Ano: 2023

Selo: RVNG Intl.

Gênero: Art Pop, Experimental

Para quem gosta de: Kaitlyn Aurelia Smith e Jenny Hval

Ouça: Confessions At the Dinner Table e Meow Chat

/ Por: Cleber Facchi 14/03/2023

O bom em acompanhar o trabalho de Kate NV é que você nunca sabe exatamente qual será o próximo passo dado pela artista moscovita. Partindo justamente dessa imprevisibilidade no processo de criação, a cantora e compositora abre as portas para o colorido Wow (2023, RVNG Intl.). Novo álbum em carreira solo, o registro de onze faixas funciona como um espaço aberto às possibilidades, direcionamento que vai do uso dos vocais ao tratamento dado aos sintetizadores e batidas. É como uma interpretação solar, mas não menos interessante de tudo aquilo que tem sido explorado desde o introdutório Binasu (2016).

A principal diferença em relação aos trabalhos que o antecedem, incluindo Room For The Moon (2020), está na forma como a artista busca causar sensações por meio da fragmentação dos elementos e uso de pequenas sobreposições instrumentais. São camadas de sintetizadores, texturas, timbres e recortes que a todo momento transportam a mente para algum lugar no passado. Composições que partem de uma abordagem talvez reducionista quando observadas em proximidade a outras criações da musicista russa, como Plans e Not Not Not, mas que se completam pelas experiências acumuladas pelo próprio ouvinte.

Embora posicionada no encerramento do trabalho, Meow Chat funciona como uma boa representação desse resultado. São melodias que parecem saídas de um brinquedo eletrônico, animação infantil ou mesmo a trilha sonora de algum jogo de videogame. Uma criativa combinação de elementos que vai do pop produzido nos anos 1980 aos experimentos sintéticos que há tempos embalam as criações da artista moscovita. Instantes em que Kate vai de um canto a outro de forma sempre provocativa, como uma constante perversão da própria estética, conceito reforçado logo na composição de abertura, Oni (They).

Mesmo partindo de uma abordagem diversa, interessante notar a forte aproximação entre as canções. Perceba como a artista em nenhum momento ultrapassa o que parecer ser um cercado criativo bastante específico. São ambientações sintéticas, batidas e vozes ocasionais que utilizam de um enquadramento próprio. Isso fica bastante evidente na sequência formada por Confessions At the Dinner Table, parceria com Quinn Oulton, e Slon Elephant. Pouco mais de sete minutos em que somos transportados para diferentes cenários, porém, preservando a arquitetura sonora montada por Kate logo nos minutos iniciais.

Se por um lado essa estrutura garante maior consistência ao disco, por outro, tende ao uso de pequenas repetições, principalmente na segunda metade do trabalho. Passada a entrega de Early Bird, difícil não pensar em músicas como Razmishlenie (Thinking) e Flu como releituras da canção revelada minutos antes. Falta ao disco a mesma versatilidade expressa no material apresentado em Room For The Moon. A própria diminuição das vozes em favor de um repertório marcado pela instrumentação contribui para esse resultado, como pequenas reinterpretações e estruturas que surgem e desaparecem ao longo do álbum.

Ainda assim, essas pequenas irregularidades são insuficientes para prejudicar a experiência de ouvir o registro. Como o próprio título aponta, Wow encanta pelas pequenas surpresas proporcionadas pela artista ao longo do trabalho. Se em instantes somos transportados para um cenário de emanações jazzísticas e momentos de maior experimentação, minutos à frente, são diferentes reinterpretações do pop tradicional que chamam a atenção do ouvinte. Composições que vão da calmaria ao caos em um intervalo de poucos segundos, como um indicativo da profunda versatilidade de Kate NV durante toda a execução do material.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.