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Ano: 2021

Selo: QTV

Gênero: Experimental, Instrumental

Para quem gosta de: Romulo Fróes e Thiago França

Ouça: VHS

8.0
8.0

Kiko Dinucci: “VHS”

Ano: 2021

Selo: QTV

Gênero: Experimental, Instrumental

Para quem gosta de: Romulo Fróes e Thiago França

Ouça: VHS

/ Por: Cleber Facchi 30/07/2021

Com o lançamento de Rastilho (2020), Kiko Dinucci mais uma vez decidiu testar os limites da própria obra. Utilizando apenas de um violão, o cantor, compositor e produtor paulistano convidou o ouvinte a mergulhar em um registro de atmosfera árida, ocultando informações em meio a estudos rítmicos e captações sujas que pareciam funcionar como trilha involuntária para algum exemplar do cinema novo, talvez Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), trabalho cuja música de Sérgio Ricardo veio a inspirar o violonista. Um permanente atravessamento de informações que vai da forte religiosidade impressa nas criações de Baden Powell e Dorival Caymmi, ao samba torto que orienta as criações do músico dentro e fora do Metá Metá, projeto dividido com Juçara Marçal e Thiago França.

Esse mesmo direcionamento criativo e permanente busca por novas possibilidades acaba se refletindo na delirante experiência de ouvir VHS (2021, QTV). Mais recente criação de Dinucci, o trabalho de apenas uma faixa e exatos 20 minutos de duração segue de onde o violonista parou no último ano, porém, partindo de uma abordagem completamente distinta. Longe do tratamento orgânico que marca o registro entregue há poucos meses, o músico investe na construção de um material marcado pela fragmentação das ideias, ruídos e inevitável degradação da matéria. São improvisos gravados de forma caseira, convertidos em VHS, digitalizados e, por fim, apresentados ao público, reforçando a sensação de uma obra viva, em constante processo de transformação.

Entretanto, oposto ao que parece indicar, VHS está longe de ser encarada como uma obra puramente abstrata. Da mesma forma que em Rastilho, Dinucci entrega ao público um registro de atos bem delimitados, mesmo que de maneira pouco usual. Uma estranha narrativa instrumental que parte da composição atmosférica que marca os minutos iniciais, ambientando o ouvinte ao trabalho, para depois mergulhar em um território consumido pela sobreposição dos elementos, texturas e quebras conceituais. É como uma versão urgente, mas não menos interessante, de tudo aquilo que o músico havia testado no disco anterior. A diferença está na forma como somos arrancados das paisagens sertanejas de músicas como Exu Odara e transportados para um cenário totalmente urbano.

Com base nessa estrutura, VHS soa como uma combinação de elementos que parte do ritmo frenético imposto em Cortes Curtos (2017), registro originalmente lançado por Dinucci sem canções definidas, porém, maquiado pela atmosfera acústica de Rastilho. Instantes em que o músico corre por entre as brechas do estranho território criativo proposto por ele próprio, fazendo da desconstrução técnica aplicada ao processo de gravação a passagem para um cenário totalmente imprevisível, torto. Dessa forma, enquanto no trabalho anterior Dinucci afirmava que “quem canta é a madeira“, sintetizado a naturalidade e caráter orgânico explícito no processo de construção das faixas, com o presente álbum, somos confrontados com o oposto desse resultado. São captações sujas e manipulações que tensionam a experiência do ouvinte mesmo nos momentos de maior calmaria.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.