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Crítica

King Princess

: "Hold On Baby"

Ano: 2022

Selo: Zelig / Columbia

Gênero: Pop

Para quem gosta de: MUNA e HAIM

Ouça: For My Friends e Change the Locks

7.3
7.3

King Princess: “Hold On Baby”

Ano: 2022

Selo: Zelig / Columbia

Gênero: Pop

Para quem gosta de: MUNA e HAIM

Ouça: For My Friends e Change the Locks

/ Por: Cleber Facchi 08/08/2022

Parte de uma frente de artistas que têm dado novo significado ao pop estadunidense, Mikaela Straus chega ao segundo álbum como King Princess esbanjando maturidade e sensibilidade. Menos urgente em relação ao repertório entregue no disco anterior, Cheap Queen (2019), o delicado Hold On Baby (2022, Zelig / Columbia) chama a atenção pela completa vulnerabilidade explícita na construção dos versos. Composições que partem da melancolia vivida durante o período de isolamento social, mas que aportam em novos territórios e vivências que vão de amores platônicos ao sexo de forma sempre confessional.

E eu sou uma boa garota em brincar com problemas / Mas eu me odeio, quero festejar / E fingir que sou parte de algo“, detalha logo nos minutos iniciais do trabalho, em I Hate Myself, I Want To Party, música que trata das inquietações e conflitos sentimentais vividos durante toda a execução da obra. É como um acumulo natural de tudo aquilo que Straus tem experienciado desde o lançamento do disco anterior, porém, partindo de uma abordagem ainda mais sensível e intimista, estrutura que alterna entre o conforto e a inevitável necessidade de ruptura. “Eu não quero viver assim / Eu não quero viver assim“, repete.

Esse mesmo lirismo angustiado acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo da obra. São composições como Cursed (“É uma maldição ser seu amigo / Eu te amo, mas você me causa dor“), Too Bad (“Pena que eu nunca sou o suficiente“) e Let Us Die (“Se a única maneira de te amar é nos deixar morrer / Dirija o carro em direção ao penhasco e nos deixe mergulhar“) em que Straus se aprofunda no estudo de diferentes tipos de relacionamentos. De amizades tóxicas a romances fracassados, tudo parece pensado para estreitar a relação com o ouvinte por meio da dor, principal componente criativo de todo o registro.

Se por um lado esse caráter emocional contribui para o fortalecimento da obra e imediato diálogo com o ouvinte, por outro, limita o repertório apresentado em Hold On Baby a um mesmo conjunto de ideias e experiências sentimentais bastante similares. Salve exceções, como a delicada For My Friends, em que resgata memórias de um passado distante, tudo gira em torno de cenas e acontecimentos ainda recentes, sempre centrados nas desilusões amorosas, dores e separações de Straus. O resultado desse processo está na inevitável sensação de desgaste e entrega de faixas pouco atrativas, como Dotted Lines e Sex Shop.

Não por acaso, como forma de contornar esse resultado monotemático e ampliar o próprio campo de atuação, Straus decidiu colaborar com novos produtores e compositores durante as gravações do registro. É o caso de Aaron Dessner (The National, Taylor Swift). Parceiro de criação em Change The Locks, o multi-instrumentista preserva a essência do restante da obra, porém, destaca o uso das guitarras e camadas instrumentais que potencializam os sentimentos destacados nos versos. A própria Little Bother, completa pela participação de Fousheé, é outra que parece transportar o álbum para um novo território criativo.

Potencialmente pensado para as apresentações ao vivo de King Princess, quando os sentimentos de Straus devem se encontrar com as dores e tormentos do próprio público, Hold On Baby soa como uma extensão natural do repertório entregue em Cheap Queen. Enquanto o material revelado há três anos parecia transitar por entre estilos de forma sempre curiosa, com o presente álbum, a direção adotada em estúdio é bastante clara. São canções que, para o bem ou para o mal, orbitam um mesmo conjunto de ideias e conflitos emocionais, direcionamento que embala a experiência do ouvinte até os minutos finais do disco.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.