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Crítica

Kurt Vile

: "(Watch My Moves)"

Ano: 2022

Selo: Verve

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The War on Drugs e Kevin Morby

Ouça: Like Exploding Stones e Hey Like a Child

7.7
7.7

Kurt Vile: “(Watch My Moves)”

Ano: 2022

Selo: Verve

Gênero: Rock

Para quem gosta de: The War on Drugs e Kevin Morby

Ouça: Like Exploding Stones e Hey Like a Child

/ Por: Cleber Facchi 25/04/2022

A viagem proposta por Kurt Vile em (Watch My Moves) (2022, Verve) é exageradamente longa, o percurso nem sempre interessante, porém, os momentos de maior beleza e resultado final convence. Oitavo álbum de estúdio do cantor, compositor e multi-instrumentista, o registro que marca a estreia de Vile em uma gravadora de grande porte segue exatamente de onde o músico norte-americano parou há quatro anos, durante a produção do antecessor Bottle It In (2018). São canções trabalhadas em uma medida própria de tempo, como um precioso exercício de imersão que exige uma audição atenta por parte do ouvinte.

E isso fica bem representado na extensa Like Exploding Stones. Escolhida para anunciar a chegada do disco, a faixa de sete minutos convida o ouvinte a se perder em um labirinto de sons e sensações que ganham novas tonalidades a cada audição. Enquanto os versos partem de inquietações que borbulham na cabeça do próprio artista (“Pensamentos tornam-se imagens, tornam-se filmes em minha mente / Bem-vindo à maratona de filmes com disco rígido KV”), camadas de guitarras, batidas e ruídos sintéticos avançam lentamente, estrutura que acaba se refletindo até a música de encerramento, Stuffed Leopard.

Sobrevive nesses momentos de maior leveza e fino toque de delírio instrumental a passagem para algumas das melhores composições do disco. É o caso de Hey Like A Child, música em que reflete sobre a própria vida amorosa, paternidade e o relacionamento de longa data com a esposa, porém, de forma sempre descompromissada. “Como uma criança, você brilha na minha vida / Quando estou voando, estou chapado como o inferno no amor“, canta. É como se Vile buscasse inspiração em coisas simples do próprio cotidiano, conceito que tem sido aprimorado desde o amadurecimento em Wakin on a Pretty Daze (2013).

Esse mesmo direcionamento criativo acaba se refletindo em diversos outros momentos ao longo do trabalho. São canções como Mount Airy Hill (Way Gone) e Cool Water em que Vile passeia em meio a paisagens, cenas, personagens e acontecimentos de forma sempre detalhista. Composições que se distanciam de qualquer traço de urgência para envolver e transportar o ouvinte para dentro da obra. “Escreva sobre o que você vê ao seu redor / Crianças e flores / E dias por horas / Músicas por milhas / Eu não me importo“, canta em Chazzy Don’t Mind, faixa que sintetiza parte desse estrutura tão característica.

O problema é que, assim como no material entregue no trabalho anterior, Vile se perde em meio ao número excessivo de composições e faixas que orbitam um universo bastante particular, por vezes inacessível. São canções que dão voltas em meio a temas pessoais e delírios lisérgicos que estendem a duração do registro para além do necessário. A própria releitura de Wages of Sin, originalmente lançada por Bruce Springsteen como parte da coletânea Tracks (1998), parece deslocada do restante da obra. Uma seleção de pequenos tropeços que, pouco a pouco, tende a consumir o repertório, prejudicando o rendimento do álbum.

A diferença em relação ao trabalho que o antecede está na forma como (Watch My Moves) amplia os horizontes e potencializa a relação do guitarrista com outros colaboradores. São nomes como Cate Le Bon, Stella Mozgawa (Warpaint), James Stewart (Sun Ra Arkestra) e a percussionista Sarah Jones (Hot Chip, Harry Styles) que auxiliam o músico na construção dos arranjos e temas instrumentais que garantem maior profundidade às narrativas pessoais de Vile. Um delirante exercício criativo que talvez custe a capturar a atenção do ouvinte logo de cara, porém, ganha forma e cresce a cada nova audição.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.