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Crítica

Lambchop

: "Showtunes"

Ano: 2021

Selo: Merge / City Slang

Gênero: Alt. Country, Soft Rock, Eletrônica

Para quem gosta de: The National, Wilco e Bill Callahan

Ouça: Drop C e FUKU

8.0
8.0

Lambchop: “Showtunes”

Ano: 2021

Selo: Merge / City Slang

Gênero: Alt. Country, Soft Rock, Eletrônica

Para quem gosta de: The National, Wilco e Bill Callahan

Ouça: Drop C e FUKU

/ Por: Cleber Facchi 03/06/2021

Assim como Bill Callahan e Wilco, o Lambchop, grupo comandado pelo cantor, compositor e multi-instrumentista Kurt Wagner, viveu um de seus períodos mais férteis entre o final da década de 1990 e início dos anos 2000. Porém, longe de qualquer traço de conforto, em nenhum momento o artista se permitiu sufocar pela própria comodidade e satisfação passageira. E isso fica bastante evidente na sequência de obras produzidas ao longo de toda a última década. Da busca por novas possibilidades, em Mr. M (2012), passando pelo diálogo com a produção eletrônica, marca de obras como Flotus (2016) e This (Is What I Wanted to Tell You) (2019), cada novo trabalho entregue pelo coletivo de Nashville, Tennessee, parece transportar o ouvinte para um novo e delicado território criativo.

Concebido e gravado à distância, durante o período de isolamento social, Showtunes (2021, Merge / City Slang) é um bom exemplo disso. Mesmo que parta dos temas eletrônicos incorporados por Wagner na última década, o registro de oito faixas estabelece no completo refinamento dos arranjos, melodias e frações instrumentais um importante componente de renovação dentro da extensa discografia do grupo. São maquinações sintéticas, fragmentos de vozes e momentos de maior experimentação que tingem com novidade parte expressiva da obra. Instantes em que o músico norte-americano traz de volta tudo aquilo que tem sido incorporado desde o refinamento melódicos de OH (Ohio) (2008), porém, partindo de um enquadramento essencialmente atmosférico.

Não por acaso, Wagner fez da própria música de abertura, A Chief’s Kiss, a primeira composição do disco a ser apresentada ao público. Feita para ser absorvida aos poucos, sem pressa, a canção que utiliza de memórias particulares do compositor estadunidense apresenta parte dos elementos que serão melhor resolvidos até a derradeira The Last Benedict, outra preciosidade do álbum. Estão lá os sintetizadores minimalistas, metais arranjados pelo experiente CJ Camerieri (Sufjan Stevens, Belle and Sebastian) e toda uma seleção de pequenos detalhes que se revelam ao público de forma essencialmente discreta. Mais do que garantir respostas, o grande charme do som produzido pelo Lambchop se concentra nos segredos e na atmosfera misteriosa que sutilmente envolve a banda.

Uma vez imerso nesse cenário marcado pela completa delicadeza dos arranjos, melodias e vozes, Wagner e seus parceiros de estúdio, entre eles, o músico James McNew, do Yo La Tengo, se concentram na construção de atos pontualmente volumosos, capturando a atenção do ouvinte. E isso fica bastante evidente em Drop C, segunda faixa do disco. Partindo de uma abertura marcada pelo reducionismo dos arranjos, a faixa cresce em uma inesperada sobreposição de cordas, metais e maquinações sintéticas que potencializam os versos lançados pelo artista. “Não podemos esconder mais / Como se algo tivesse dado errado … Eu ouço tudo“, canta, preparando o terreno para a música seguinte, a instrumental e também detalhista Papa Was a Rolling Stone Journalist.

Entretanto, a grande beleza do disco, como tudo aquilo que o Lambchop tem produzido ao longo da última década, sobrevive na fragmentação das ideias e momentos de maior ruptura criativa. E isso fica bastante evidente na já conhecida FUKU. Faixa mais extensa do álbum, a composição de sete minutos parece seguir a mesma trilha abstrata percorrida em i, i (2019) e 22, A Million (2016), dois últimos trabalhos de estúdio do Bon Iver. São maquinações inexatas, ruídos e vozes picotadas, mas que em nenhum momento se distanciam do completo refinamento que embala as criações da banda. Esse mesmo direcionamento estético acaba se refletindo em outros momentos ao longo da obra, como no som torto e inusitada combinação de ritmos que vai do reggae ao country em Blue Leo.

A principal diferença em relação aos últimos trabalhos da banda, principalmente o homogêneo This (Is What I Wanted to Tell You), está na forma como o Lambchop se permite brincar com a reformulação das ideias e abordagens instrumentais, porém, mantendo firma o preciosismo dos arranjos e uso destacado de cada elemento. Perfeita representação desse resultado acontece na própria sequência de encerramento do disco, com Impossible Meatballs e The Last Benedict. São ambientações eletroacústicas, melodias e vozes econômicas que se entrelaçam de maneira tão imprevisível quanto acolhedora, indicativo do completo domínio e permanente busca de Wagner pela desconstrução da identidade musical do grupo de Nashville desde sua formação, no fim dos anos 1980.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.