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Crítica

Lana Del Rey

: "Blue Banisters"

Ano: 2021

Selo: Polydor / Interscope

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Weyes Blood e Lykke Li

Ouça: Dealer e Wildflower Wildfire

8.0
8.0

Lana Del Rey: “Blue Banisters”

Ano: 2021

Selo: Polydor / Interscope

Gênero: Rock

Para quem gosta de: Weyes Blood e Lykke Li

Ouça: Dealer e Wildflower Wildfire

/ Por: Cleber Facchi 03/11/2021

Perto de completar dez anos de lançamento de Born to Die (2012), Lana Del Rey parece cada vez mais distante da imagem de cantora pop a que foi condicionada em início de carreira para assumir uma identidade cada vez mais contemplativa, como a de uma poetisa. E isso fica bastante evidente no processo de transição iniciado durante o lançamento de Norman Fucking Rockwell (2019), de onde vieram algumas de suas criações mais complexas. São composições que passeiam em meio a versos sempre descritivos e intimistas, proposta que volta a se repetir com a chegada de Blue Banisters (2021, Polydor / Interscope).

Contraponto ao repertório entregue no enevoado Chemtrails Over The Country Club (2021), apresentado há poucos meses, Blue Banisters cresce como uma obra essencialmente densa e soturna. Livre das batidas eletrônicas e melodias comercialmente arquitetadas dentro dos primeiros registros autorais, a cantora se concentra na produção de um material reducionista, estrutura que garante maior destaque ao uso das vozes e construção dos versos. São poemas musicados que se revelam ao público em uma medida própria de tempo, proposta que preserva a essência da artista californiana, porém, aponta com naturalidade para a obra de Nick Cave, Lonard Cohen e outros nomes dotados de uma identidade criativa bastante similar.

Mesmo pontuado por momentos de maior euforia, como na brilhante colaboração com Miles Kane, em Dealer, uma das melhores e mais intensa composições já apresentadas pela artista, Blue Banisters sobrevive como uma obra de essência imersiva. Do momento em que tem início, em Text Book, até alcançar a derradeira e reducionista Sweet Caroline, música regida pela economia dos pianos, perceba como Lana se distancia de possíveis excessos. São fragmentos instrumentais e poéticos que parecem delicadamente soprados pela cantora, como a passagem para um novo e sempre melancólico território criativo.

E isso fica bastante evidente na sequência de abertura do trabalho. São três composições essencialmente densas e extensas. Pouco menos de 15 minutos em que a cantora se distancia de um repertório acessível para ambientar o ouvinte ao registro. Perfeita representação desse resultado acontece em Arcadia, dolorosa criação em que mescla os próprios sentimentos à paisagem californiana. “Meu corpo é um mapa de LA / Eu fico ereta como um anjo com uma auréola / Pendurado na janela do Hotel Hilton / Gritando: ‘Ei, você, baby, vamos lá’“, detalha. É somente após esse bloco preparatório que o álbum realmente tem início, direcionamento reforçado pelo interlúdio em que recria a obra do compositor italiano Ennio Morricone.

Não por acaso, o trabalho desemboca em uma sequência de composições marcadas pelo maior refinamento instrumental, ainda que íntimas da abordagem econômica que serve de sustento ao disco. Exemplo disso fica bastante evidente na sequência formada pelas delicadas Thunder e Wildflower Wildfire. Instantes em que Lana vai do soul ao fino toque de experimentação, estrutura potencializada pela breve interferência do produtor Mike Dean (Frank Ocean, Kanye West). Mesmo os versos, sempre regidos pela força dos sentimentos, refletem a evidente entrega e domínio criativo da compositora ao longo da obra.

Claro que esse maior esmero no processo de composição do trabalho não exime Lana de uma série de defeitos bastante aparentes. Assim como em Norman Fucking Rockwell e Chemtrails Over The Country Club, Blue Banisters se estende para além do necessário, sensação reforçada pelo forte caráter monotemático e faixas ancoradas em conceitos há muito explorados pela compositora. O próprio andamento do registro, principalmente nos minutos iniciais, mais distancia do que parece atrair o ouvinte. Uma soma de pequenos tropeços que poderia facilmente consumir a obra de um artista iniciante, mas que parece disfarçada à medida que somos inevitavelmente seduzidos pela poesia inebriante da cantora.

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Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.

Jornalista, criador do Música Instantânea e integrante do podcast Vamos Falar Sobre Música. Já passou por diferentes publicações de Editora Abril, foi editor de Cultura e Entretenimento no Huffington Post Brasil, colaborou com a Folha de S. Paulo e trabalhou com Brand Experience e Creative Copywriter em marcas como Itaú e QuintoAndar. Pai do Pudim, “ataca de DJ” nas horas vagas e adora ganhar discos de vinil de presente.